A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada para vigorar em agosto, gerou impactos políticos no Brasil. A medida, que inclui uma investigação comercial sobre práticas como o uso do Pix, pode prejudicar a economia brasileira, com riscos de queda no PIB, inflação e desemprego em setores como suco de laranja, café e aviação. Contudo, a ofensiva de Trump, em seu sexto mês de mandato, abriu oportunidades para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recuperar popularidade e unir forças contra a crise, enquanto expôs divisões na oposição.
Lula, que enfrentava um governo desgastado e sem marcas expressivas, adotou tom moderado, enfatizando a soberania nacional e a necessidade de diálogo. “O Brasil é deficitário na relação comercial com os Estados Unidos, e não superavitário, como alegou o mandatário americano”, afirmou, rejeitando interferências no Judiciário em favor do ex-presidente Jair Bolsonaro, alvo de processos por suposta tentativa de golpe. Ele também usou um boné com a frase “O Brasil é dos brasileiros” em resposta às pressões de aliados de Bolsonaro, como os filhos Flávio e Eduardo, que condicionam o fim das tarifas à anistia do ex-presidente.
Enquanto Lula busca negociações, coordenadas pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, setores produtivos alertam para os impactos. “Para nós, o mercado americano é impossível de ser substituído”, disse Ibiapaba Netto, presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos. A Embraer, cujas ações caíram mais de 10%, também sofre. “Alíquota de 50% é quase um embargo”, declarou Francisco Gomes Neto, presidente da empresa. A carne bovina e o café, com 20% do mercado americano dependente do Brasil, também estão ameaçados.
No campo político, a crise fortaleceu Lula. Pesquisa Genial/Quaest de 16 de julho mostra que a desaprovação ao governo caiu de 57% para 53%, e a aprovação subiu de 40% para 43%. No Sudeste, região com forte exportação aos EUA, a rejeição caiu de 64% para 56%. “A recuperação aconteceu na classe média, com maior escolaridade, no Sudeste”, afirmou Felipe Nunes, CEO da Quaest. Nas redes, Lula superou Bolsonaro no engajamento, segundo a Ativaweb Group. “Pela primeira vez, o algoritmo ouviu mais Lula do que Bolsonaro”, disse Alek Maracaja, diretor da empresa.
A oposição, por sua vez, enfrenta tensões. Enquanto aliados de Bolsonaro atacam Lula, o governador Tarcísio de Freitas é criticado por petistas, que o acusam de alinhamento com o ex-presidente. A Fundação Perseu Abramo (PT) publicou uma charge chamando Trump de “Tramp”. Apesar dos ganhos políticos, Lula ainda precisa neutralizar as tarifas, que podem inviabilizar exportações de 20 bilhões de dólares. O governo enviou uma carta a Trump, expressando indignação, mas defendendo diálogo para preservar as relações bilaterais.
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