A decisão do presidente americano Donald Trump de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros já impacta o mercado de alimentos no Brasil, principal exportador de carnes, frutas, suco de laranja e café para os EUA. Os preços de carnes e frutas estão em queda no atacado, enquanto o café registra alta.Nas feiras, os preços de frutas já mostram redução, e analistas preveem que as tarifas intensificarão essa tendência, especialmente para produtos perecíveis, mais afetados pela incerteza gerada por Trump. “É um grande desafio para a fruticultura. Diferentemente de commodities, esses produtos são perecíveis e não conseguem outras estratégias para conter possíveis impactos do tarifaço”, explica Lucas Bezerra, especialista em manga do Cepea.
Queda nos preços de carne
Entre março e junho, as carnes bovinas já vinham em queda, após alta de quase 21% em 2024. De 24 de junho a 21 de julho, o preço no atacado caiu 7,8%, e a arroba do boi gordo recuou 7,5% no mesmo período. “Os frigoríficos que exportam para os EUA redirecionaram a produção para o mercado interno, aumentando a oferta e reduzindo preços, em um movimento sazonal de menor consumo”, diz Thiago Bernardino de Carvalho, pesquisador do Cepea/USP.
Empresas como JBS, com fábricas na Austrália, e Minerva, com unidades na Argentina, Uruguai e Colômbia, podem exportar a partir desses países, destinando a produção brasileira ao mercado local. Fábio Romão, economista da LCA 4Intelligence, destaca que a maior oferta de gado, devido ao inverno, e as incertezas das tarifas pressionam as cotações. Ele prevê reflexos no varejo entre agosto e setembro.
Sérgio Capucci, vice-presidente do Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de Mato Grosso do Sul, minimiza o impacto: “Houve uma queda de cerca de 5% após o anúncio, mas os frigoríficos não reduziram a produção”. Ele aponta que a carne foi redirecionada para Chile, China e Oriente Médio.O aposentado Maurício Vicente, de 70 anos, notou uma leve redução nos preços, mas ainda considera a carne cara: “Se a tarifa ajudar a baratear, será bem-vinda, porque o orçamento está apertado”.
Café em alta
Diferentemente, o café registra aumento de preços. Em Nova York, a cotação subiu 6,8% entre 14 e 17 de julho, antecipando o impacto das tarifas. No Brasil, o café acumula alta de 80,20% em 12 meses até fevereiro, segundo o IPCA, embora a inflação mensal tenha caído de 9% para 0,56% em junho. Contudo, a recente alta no atacado pode reverter essa tendência. “A cotação interrompeu o ciclo de queda que vinha desde junho”, observa Romão.
José Carlos Hausknecht, da MB Agro, destaca que o Brasil, responsável por 30% das exportações globais de café, é essencial para marcas americanas: “Não é possível mudar rapidamente o blend que usa café brasileiro”. Marcos Augusto, cuidador de idosos de 55 anos, percebeu a alta recente: “Na última semana, o preço subiu para R$ 1.803. Pode ser uma rearrumação do mercado”.
Frutas mais acessíveis
Nas frutas, a queda é nítida. No Vale do São Francisco, responsável por mais de 90% das exportações de manga e uva, o preço da manga tommy caiu 4% entre 14 e 18 de julho, chegando a R$ 1,36 por quilo. Guilherme Coelho, presidente da Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Frutas, alerta: “Se as 48 mil toneladas destinadas aos EUA ficarem no Brasil, o preço pode cair de R$ 1,20 para R$ 0,30, prejudicando os produtores”.
Alex Pinheiro, feirante de 49 anos, confirma a redução: “A caixa de uva caiu de R$ 110 para R$ 40”. Bezerra, do Cepea, atribui a queda à maior oferta e ao menor consumo no inverno e nas férias escolares.
Diplomacia e expectativas
A três dias do início das tarifas, o governo Lula considera inviável um adiamento sem diálogo com Trump. O embaixador Graça Lima defende pragmatismo nas negociações com os EUA. Enquanto isso, a China sinaliza apoio ao Brasil contra as tarifas, visando defender a “equidade internacional”.
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