A economia da Bahia já sente os reflexos da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, embora a medida ainda não esteja em vigor. Os setores mais impactados são a fruticultura, especialmente a manga, a pesca e a indústria, com perdas estimadas em milhões e riscos de desemprego em larga escala.Fruticultura sob pressãoNo Vale São Francisco, responsável por 80% da manga exportada pela Bahia, o prejuízo estimado é de US$ 32 milhões (cerca de R$ 179 milhões). Humberto Miranda, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), destaca a gravidade: “A colheita começa em setembro. Estamos falando de um produto altamente perecível e não há tempo hábil para encontrar mercados alternativos.”
Cerca de 60% da produção de manga baiana é destinada aos EUA, o segundo maior comprador. Na região, que se estende até Pernambuco, 20% das 50 mil toneladas exportadas em uma janela de quatro meses (de julho a novembro) vão para o mercado americano. A próxima remessa, prevista para 2 de agosto, saindo de Salvador, Fortaleza e Natal, pode ser reduzida a 30% do volume habitual, gerando uma queda de 70% nas exportações e impactando 7 mil trabalhadores nos 51 mil hectares cultivados. “É um prejuízo imenso e, diga-se de passagem, um prejuízo direto. Se não há venda, não há como manter a mão de obra, então demissão é a primeira coisa que acontece”, alerta Tássio Lustosa.Pescados parados nos portosO setor de pescados também enfrenta dificuldades. Desde o anúncio da tarifa, 58 contêineres com 1.160 toneladas de pescado foram suspensos em portos como Salvador, Suape (PE) e Pecém (CE), segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca). Em 2022, a Bahia respondeu por 11% das exportações nacionais de peixe aos EUA, totalizando US$ 2,6 milhões (R$ 14 milhões à época). A tilápia, um dos peixes mais exportados, teve 174 toneladas embarcadas em 2024, equivalente a US$ 654 mil (R$ 3 milhões).
Marcos Rocha, assessor especial da presidência da Bahia Pesca, aponta que os EUA são o principal destino das exportações de pescado baiano. “Esse bloqueio representa prejuízo significativo em termos mercadológicos e de receita. Acredita-se que o tarifaço de 50% provocará queda nas exportações, aumento de estoque, prejuízos financeiros, redução da produção, desemprego e sobrecarga no mercado interno”, explica. Ele defende medidas emergenciais para proteger a cadeia produtiva.Indústria enfrenta desafios logísticosA indústria baiana, que projetava exportações de US$ 900 milhões (R$ 5 bilhões) em 2025, pode perder US$ 470 milhões (R$ 2,6 bilhões) no primeiro ano da tarifa, segundo Arthur Cruz, coordenador de Conjuntura Econômica da Superintendência de Estudos Econômicos da Bahia (SEI). O impacto imediato está na logística, com cancelamentos de embarques. “Para fazer um embarque em uma exportação, geralmente, leva-se 90 dias preparando a logística, quanto mais se não houver um comprador definido”, explica Cruz.
Setores como celulose, pneus, óleos combustíveis, frutas, café e bioquímicos sofrem com a desorganização logística. Fernando Branco, presidente do Sindicato das Indústrias de Papel, Celulose, Papelão, Pasta de Madeira para Papel e Artefatos de Papel e Papelão do Estado da Bahia (Sindpacel), alerta: “Se não conseguirmos buscar outros mercados, vão reduzir a produção e isso pode causar desemprego.”Negociações para mitigar impactosEmpresários buscam soluções junto ao governo estadual. Wilson Andrade, diretor-executivo da Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (ABAF), integra um grupo de trabalho que avalia os impactos da tarifa. Ele destaca que 35 mil pequenos fazendeiros e 200 mil pessoas no semiárido baiano podem ser afetados. “Está sendo buscada uma forma de dar incentivos fiscais e financeiros para as empresas, para que elas possam não demitir seu time de trabalho e esperar uma solução mais definitiva”, afirma.
Bruno Reis, prefeito de Salvador, lamentou os impactos: “Tudo que está acontecendo é lamentável. Prejudica quem quer empreender, prejudica quem quer produzir. O prefeito, que tem a missão de administrar, está vendo o estado parando e, consequentemente, isso impacta a arrecadação e dificulta [a missão] de honrar nossos compromissos e garantir os níveis de investimento.” Ele apela por equilíbrio nas negociações internacionais para evitar que a população pague o preço das disputas políticas.
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