Cúpula de líderes da COP30 avança com debates sobre energia sustentável e legado do Acordo de Paris

Reflexões globais sobre compromissos climáticos em Belém impulsionam agenda para a conferência
Por: Brado Jornal 07.nov.2025 às 09h15
Cúpula de líderes da COP30 avança com debates sobre energia sustentável e legado do Acordo de Paris
Foto: MAURO PIMENTEL/AFP
A programação da Cúpula dos Líderes, que antecede a COP30 em Belém, prossegue nesta sexta-feira (7) com a continuação dos pronunciamentos na assembleia principal, centrados em questões ambientais e climáticas. Representantes de 57 nações e entidades internacionais, incluindo chefes de Estado, retomam as intervenções no Salão Plenário a partir das 10h, após a foto oficial das delegações às 8h. O encontro, convocado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e organizado pela presidência brasileira da conferência, não gera decisões formais ou obrigações legais, mas serve como indicador do comprometimento político global, influenciando as negociações da COP30, agendada de 10 a 21 de novembro no Parque da Cidade.

O primeiro dia do evento, ocorrido na quinta-feira (6), destacou o anúncio do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), uma proposta brasileira que já obteve o apoio de 53 países por meio da Declaração de Lançamento. Apresentado por Lula durante um almoço com líderes, o mecanismo financeiro visa captar cerca de R$ 625 bilhões (US$ 125 bilhões) via investimentos de renda fixa, sem depender de doações. Os rendimentos serão direcionados para remunerar nações preservadoras de florestas, com ênfase em Brasil, Indonésia e República Democrática do Congo. "O TFFF representa 'uma iniciativa inédita' que recoloca os países do Sul Global no centro das soluções para o clima", declarou o presidente, ao enfatizar que o fundo pretende "transformar florestas tropicais em infraestrutura viva da estabilidade climática global".

O QUE É O TFFF: O fundo é um mecanismo financeiro proposto pelo Brasil que usa um modelo de investimento de renda fixa para gerar recursos destinados à conservação de florestas tropicais. Não se tratam de doações. O lucro das aplicações será usado para remunerar países que mantêm suas florestas em pé, com prioridade para nações como Brasil, Indonésia e Congo.A estrutura do TFFF inclui gestão de carteira em ativos seguros, alavancagem por emissões de títulos de baixo risco e distribuição anual por hectare preservado, com no mínimo 20% dos recursos para povos indígenas e comunidades locais. Proíbe-se qualquer aplicação em combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e gás. Até o momento, o fundo já mobilizou US$ 5,5 bilhões em compromissos iniciais, com expectativas de adesão da Alemanha e outros aportes para alcançar US$ 10 bilhões até o fim de 2026, conforme o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Ambientalistas, como Carlos Rittl, avaliaram o lançamento como "um começo muito bom para o TFFF se tornar realidade", destacando o equilíbrio entre retornos aos investidores e pagamentos por conservação.

Entre as presenças notáveis na cúpula estão o presidente francês Emmanuel Macron, o sul-africano Cyril Ramaphosa, o primeiro-ministro britânico Keir Starmer, o presidente do Conselho Europeu António Costa, o premiê norueguês Jonas Gahr Støre, o queniano William Ruto, o jamaicano Andrew Holness e a presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen, que chegou na quarta-feira (5). O Príncipe William representa o rei Charles III. No total, 143 delegações foram confirmadas pelo Itamaraty, abrangendo vice-líderes, ministros de finanças, meio ambiente e relações exteriores, além de órgãos como ONU, Banco Mundial e FMI.

Ausências relevantes incluem os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da Argentina, Javier Milei, cujos governos priorizam menos a agenda climática; a China, maior emissora de gases de efeito estufa, enviará apenas técnicos; e os EUA limitarão-se a representantes não políticos de alto nível. Apesar disso, delegações desses países participarão da COP30. A escolha de Belém, no coração da Amazônia, reforça o simbolismo da conferência, como primeira sede de uma cúpula de líderes na região, para debater desenvolvimento sustentável e equilíbrio climático.

Hoje, as discussões paralelas concentram-se na transição energética, a partir das 11h, abordando a substituição de fontes fósseis por renováveis, como solar, eólica e hidrelétrica. O tema envolve repensar a economia global, com metas como triplicar a capacidade renovável mundial até 2030, duplicar a eficiência energética e fortalecer o Compromisso de Belém pelos Combustíveis Sustentáveis (Belém 4x), liderado por Brasil, Itália e Japão. Essa coalizão visa quadruplicar a produção de opções como hidrogênio verde, biogás, biocombustíveis e sintéticos até 2035. "Nós vamos ter um dia temático que vai discutir transição energética e os dez anos do Acordo de Paris, nada mais propício do que ter a discussão sobre o tema central que o Acordo de Paris precisa entregar, que é como é que a gente vai abandonando o uso dos combustíveis fósseis, que é exatamente se fazer a transição energética", afirma Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima.

Já a sessão da tarde, às 16h, avaliará os dez anos do Acordo de Paris (2015-2025), assinado na COP21 para limitar o aquecimento global a bem abaixo de 2°C, com esforços para 1,5°C até o fim do século. O foco recairá sobre o cumprimento das NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas), planos nacionais de redução de emissões e adaptação climática, e sua atualização para 2035.

ENTENDA: O Acordo de Paris é um tratado global firmado em 2015, durante a COP21, que une quase todos os países na luta contra a crise climática. O objetivo é manter o aquecimento do planeta bem abaixo de 2°C e buscar esforços para limitar o aumento a 1,5°C até o fim do século. As NDCs são o instrumento central desse acordo, atuando como planos de ação de cada país para conter o aquecimento global. Em outras palavras, representam o que cada governo promete fazer para reduzir emissões de gases de efeito estufa e adaptar-se aos impactos do clima.

O debate incluirá financiamento climático, com o Roteiro Baku-Belém, proposto pelas presidências da COP29 (Azerbaijão) e COP30 (Brasil), prevendo US$ 1,3 trilhão anuais até 2035 via cinco pilares: reforçar, reequilibrar, redirecionar, reestruturar e reconfigurar o sistema financeiro global. Outras iniciativas esperadas são o Chamado à Ação Climática, a Declaração sobre Fome, Pobreza e Ação Climática, e o Chamado à Ação sobre Manejo Integrado do Fogo. "Para este segundo dia de Cúpula dos Líderes esperamos ambição e caminhos. Caminhos para a transição energética, como falado pelo Presidente Lula na abertura, e ambição nas NDCs e no financiamento climático”, diz Alexandre Prado, Líder de Mudanças Climáticas do WWF-Brasil.

A cúpula, descrita como um "termômetro político" por diplomatas, ocorre em grupos de cerca de 40 participantes por sessão temática, fomentando diálogos sobre florestas, oceanos, povos indígenas e ações justas para vulneráveis. A ministra Marina Silva destacou que o evento definirá "o termo de referência" para a COP30, enfatizando a transição energética justa e o desmatamento zero até 2030. Lula, na abertura, alertou: "A COP30 será a COP da verdade. É o momento de levar a sério os alertas da ciência. É hora de encarar a realidade e decidir se teremos ou não a coragem e a determinação necessárias para transformá-la". O encontro reforça a liderança brasileira na agenda ambiental, com foco em créditos de carbono via restauração, como notado pelo embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30: "não há crédito melhor do que o de restauração".


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