Haddad critica falta de expertise de Derrite em combate ao crime organizado e questiona urgência na aprovação do projeto Antifacção

Ministro da Fazenda aponta exclusão de Receita Federal e PF das discussões e defende maior integração entre órgãos
Por: Brado Jornal 13.nov.2025 às 09h37
Haddad critica falta de expertise de Derrite em combate ao crime organizado e questiona urgência na aprovação do projeto Antifacção
Foto: Diogo Zacarias/MF

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, manifestou nesta quarta-feira críticas ao deputado Guilherme Derrite (PP-SP), relator do projeto Antifacção e secretário licenciado de Segurança Pública de São Paulo, ao afirmar que ele não possui conhecimento adequado em "inteligência e investigação" contra o crime organizado. Haddad questionou a pressa na votação do texto legislativo. 

Nós demos uma demonstração de integração para asfixiar o crime organizado há dois, três meses. Você vai colocar isso a perder em função do açodamento de um relator que, com todo respeito, não é propriamente uma pessoa que entenda de inteligência e investigação, não é uma pessoa versada em investigação e inteligência disse Haddad.  Ele destacou a ausência de diálogo com o governo federal, o que, na sua visão, resulta em versões do projeto que diminuem a atuação da Polícia Federal (PF) e da Receita Federal no enfrentamento às organizações criminosas. 

Não entendo esse açodamento de votar a lei sem uma discussão com o governo. São órgãos de estado, a PF é do país, a Receita tampouco é de governo, são órgãos de estado, e enfraquecer eles não faz o menor sentido.  Na manhã desta quarta, Haddad se encontrou com o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, no Ministério da Fazenda, para discutir a coordenação entre o órgão e a Receita Federal. 

Estamos afinando esses procedimentos, as trocas de informações entre os dois órgãos.  Mais cedo, a ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Gleisi Hoffmann, indicou que quatro aspectos do projeto precisam ser removidos pelo relator, pois são considerados "inegociáveis" pelo governo e poderiam alterar completamente a proposta original, elaborada pelo Ministério da Justiça. O Palácio do Planalto busca adiar a votação do parecer de Derrite.  Esses pontos foram debatidos em reunião matutina entre a SRI, o Ministério da Justiça e a Casa Civil, focando no relatório apresentado na terça-feira à noite pelo secretário licenciado. 

Derrite expressou preocupação em elaborar um texto que evite questionamentos no Supremo Tribunal Federal (STF) e admitiu possibilidade de novas alterações, tendo já submetido três versões diferentes.  Gleisi explicou que o Ministério da Justiça continua avaliando detalhes, mas o grupo priorizou elementos essenciais: A gente focou naquilo que é estruturante e que pode realmente tornar a lei totalmente ineficaz, que são esses pontos afirmou Gleisi Claro que outros pontos são pontos que a gente vai buscar conversar, ajustar, mas esses eu diria que são pontos praticamente inegociáveis, porque desconfiguram o projeto, disse. 

Ela defende o adiamento para permitir ajustes: Conversei com os nossos líderes de governo para que conversassem com o presidente do Motta, dissessem à direção da Casa, se vai votar hoje mesmo. Se não votar, eu quero marcar com ele para a gente conversar. Pela complexidade da matéria, seria importante ter mais tempo pra discutir. E arredondar todos os pontos acrescentou Gleisi.

Quatro pontos do projeto que o governo quer eliminar:

Sobreposição de leis: O parecer mais recente de Derrite cria uma nova norma sobre organizações criminosas sem revogar a anterior, gerando erro técnico legislativo segundo o Ministério da Justiça. Isso permitiria que advogados de acusados invocassem a lei antiga, com penas mais leves, devido à pressa na tramitação.

Risco de perda de recursos pela PF: O texto destina de forma genérica bens apreendidos de traficantes e criminosos organizados a fundos estaduais ou distritais de Segurança Pública. Para o Ministério da Justiça, em casos federais, os valores deveriam ir para o Fundo para Aparelhamento e Operacionalização das Atividades-fim da Polícia Federal (Funapol) e o Fundo Penitenciário Nacional (Funpen), sob pena de inconstitucionalidade e redução de recursos para a PF e presídios federais.

Tipificação penal de "facção criminosa": A proposta inicial criava o crime específico de "facção criminosa", mais estruturada que organizações comuns, com domínio territorial, econômico e atuação interestadual ou transnacional, visando enquadrar facções e milícias – considerado o cerne do projeto. Derrite removeu isso e inseriu "domínio social estruturado", com 11 condutas, como uso de violência para controle de comunidades, restrição à circulação de pessoas e bens, ou ataques a presídios. O governo prefere a tipificação original por ser mais clara e adaptada à realidade.

Confisco de bens: No parecer de Derrite, bens de criminosos só podem ser confiscados após o fim do processo judicial. A versão original permitia isso desde o início da investigação para sufocar financeiramente as quadrilhas. "Colocamos no projeto que essas facções perdem os seus bens a partir do momento que começa a investigação. No relatório isso só vai acontecer só depois do trânsito em julgado da sentença condenatória e você corre o risco de não capturar esses bens", explica Gleisi. 

Técnicos do Ministério da Justiça, ao analisar a terceira versão do texto, concluem que a votação deve ser postergada: Não tem a menor condição do projeto ser votado da forma que está. Você pode acabar colapsando o sistema penal e prisional, o que vai beneficiar o crime organizado afirmou o secretário Nacional de Assuntos Legislativos da pasta, Marivaldo Pereira. 

A equipe defende retornar ao texto original, que elevava penas para líderes de facções e reduzia para membros com bons antecedentes e sem comando. Atualmente, a pena de 20 a 40 anos aplica-se a qualquer integrante, sem mitigantes.  O projeto também impede "anistia, graça, indulto, fiança e livramento condicional" para suspeitos desses crimes, o que pode elevar a população prisional.  




📲 Baixe agora o aplicativo oficial da BRADO
e receba os principais destaques do dia em primeira mão
O que estão dizendo

Deixe sua opinião!

Assine agora e comente nesta matéria com benefícos exclusivos.

Sem comentários

Seja o primeiro a comentar nesta matéria!

Carregar mais
Carregando...

Carregando...

Veja Também
PF descobre registro detalhado de propinas em aplicativo de celular do cunhado de Rodrigo Manga
Operação Copia e Cola revela controle financeiro paralelo com siglas e valores ligados a contratos públicos em Sorocaba
Recondução de Gonet à PGR é aprovada com margem estreita no Senado
Apoio apertado reflete perda de respaldo entre senadores opositores e tensões políticas na sabatina
Chanceler brasileiro solicita análise de proposta americana para revogar tarifas elevadas
Diálogo breve em cúpula do G7 reacende apelos do Brasil por exame do plano apresentado em 4 de novembro
Correios em crise gastam R$19,5 milhões com contratos para a COP30 sob gestão Lula
Estatal à beira da falência assina acordos milionários para logística da conferência climática em Belém
Recuo na aprovação do governo Lula, revela Paraná Pesquisas
Pesquisa indica queda nos índices de desempenho presidencial
Nova etapa da Operação Sem Desconto é iniciada por PF e CGU
Autoridades cumprem mandados em 15 estados e no DF contra fraudes em benefícios previdenciários
Carregando..