A Operação Compliance Zero, desencadeada pela Polícia Federal, expôs um suposto esquema de carteiras fictícias de crédito consignado no Banco Master e no Banco Pleno, com prisões do banqueiro Daniel Vorcaro e de Augusto Lima (Guga Lima). No epicentro político do caso estão o ex-ministro João Roma, presidente do PL na Bahia, o dono do Banco Pleno, Guga Lima, e o ex-ministro interino Ronaldo Vieira Bento – todos com relações pessoais e profissionais que agora preocupam investigadores e adversários.
Fontes da cúpula da oposição baiana ao PT afirmam que João Roma mantém amizade pessoal antiga com Daniel Vorcaro (“unha e carne”) e proximidade com Guga Lima. Segundo os relatos, foi o próprio Roma quem apresentou Guga Lima à atual esposa, a ex-ministra Flávia Arruda (PL), ex-titular da Secretaria de Governo de Bolsonaro.
O elo institucional mais direto aparece na diretoria do Banco Pleno, de propriedade de Augusto Lima. Um dos diretores é Ronaldo Vieira Bento, que ocupou a Chefia de Assuntos Estratégicos do Ministério da Cidadania na gestão João Roma (2021) e, após a saída do titular, foi indicado por Roma para assumir interinamente o comando da pasta. Hoje Bento figura no quadro societário e de direção do banco cujo dono está preso por suspeita de fraudes.
Os balanços do Banco Master mostram trajetória incomum:
- 2021: R$ 754,6 milhões em consignado
- 2022: R$ 2,2 bilhões (+191%)
- 2023: R$ 2,5 bilhões (+15,6%)
- 2024: R$ 919 milhões (-64%)
A redução abrupta ocorreu após a cessão de R$ 1,6 bilhão em carteiras (comprador não informado) e coincidou com a tentativa frustrada de venda ao BRB, vetada pelo Banco Central. Investigadores suspeitam que parte desses créditos seja fictícia e que a operação com o banco público brasiliense teria sido usada para ocultar a fraude.
O lucro líquido do Master, paradoxalmente, dobrou no mesmo período: de R$ 532 milhões (2023) para R$ 1,068 bilhão (2024).
A assessoria do banqueiro informou que “Daniel Vorcaro e o Banco Master estão à disposição para cooperar com as autoridades, fornecer informações e participar de audiências”.
Banco Pleno: Da Separação do Grupo Master à Crise com a Prisão de Seu Controlador Augusto Lima
O Banco Pleno S.A., uma instituição financeira com foco em crédito consignado e cartões para servidores públicos, ganhou os holofotes do mercado e da opinião pública após a prisão de seu controlador, o empresário baiano Augusto Ferreira Lima (conhecido como Guga Lima), na Operação Compliance Zero da Polícia Federal. Apesar de o banco afirmar independência total dos fatos investigados, que envolvem fraudes bilionárias no ex-conglomerado Banco Master, a instituição enfrenta turbulências no mercado de investimentos e questionamentos sobre sua governança. Fundado há mais de 50 anos, o Pleno – antigo Banco Voiter – representa um capítulo de reestruturação no setor bancário brasileiro, mas agora lida com o impacto da crise de seu ex-sócio Daniel Vorcaro.
O Banco Pleno tem raízes em 1967, quando foi criado como Banco Voiter S.A. (CNPJ 61.024.352/0001-71), com foco inicial em operações comerciais e distribuição de títulos. Em 2019, integrou o conglomerado do Banco Master, controlado por Daniel Vorcaro, atuando como subsidiária para distribuição de valores mobiliários. Essa fase marcou um período de expansão, mas também de controvérsias que culminariam na liquidação extrajudicial do Master em novembro de 2025.
A virada ocorreu em 2025: em junho, Augusto Lima, que havia sido CEO e sócio do Master desde 2019, adquiriu o controle acionário do Voiter e de sua controlada, a Distribuidora Intercap de Títulos e Valores Mobiliários S.A. Uma Assembleia Geral Extraordinária em 10 de julho aprovou a mudança de nome para Banco Pleno S.A., com efeitos a partir de 24 de julho. O Banco Central autorizou a transferência de controle e a nova denominação em 5 de agosto, publicada no Diário Oficial da União em 18 de agosto. A separação do grupo Master foi oficializada em setembro, recuperando a cobertura independente do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), limitada a R$ 250 mil por CPF ou CNPJ.
Lima, de 46 anos e natural da Bahia, injetou R$ 160 milhões em dois aportes de capital para modernizar a instituição. Sua trajetória no setor começou em 2018, com a privatização da Empresa Baiana de Alimentos (Ebal) pelo governo Rui Costa (PT), onde ele assumiu a parte financeira e criou o CredCesta – um cartão consignado para servidores públicos que se tornou pilar do negócio. O produto foi incorporado ao Master em 2019 e, após a saída de Lima, permaneceu ligado ao Pleno.
Sob o comando de Lima, que assumiu a presidência do Conselho de Administração até 2027, o Banco Pleno reforçou sua governança com uma diretoria aprovada pelo BC em agosto de 2025.
A diretoria executiva é formada por Antonio Nuno Henriques Cardoso Verças (diretor-geral, responsável pelas operações do dia a dia), Renata Leme Borges dos Santos (diretora-executiva, com foco em estratégia) e Angelo Antonio Ribeiro da Silva (diretor). O cargo de diretor-executivo é ocupado por Ronaldo Vieira Bento, baiano de 48 anos, servidor de carreira do Executivo Federal e policial federal na reserva. Bento foi chefe de Assuntos Estratégicos do Ministério da Cidadania durante a gestão João Roma (2021) e, em março de 2022, assumiu interinamente o comando da pasta por indicação direta do então ministro — hoje presidente do PL na Bahia.
Ronaldo Vieira Bento, 48 anos, natural de Salvador (BA), é um elo notável com o cenário político. Servidor de carreira do Executivo Federal e policial federal na reserva, ele ocupou a Chefia de Assuntos Estratégicos no Ministério da Cidadania durante a gestão de João Roma (2021-2022), no governo Jair Bolsonaro. Em março de 2022, Roma – então filiado ao PL e atual presidente do partido na Bahia – indicou Bento como seu substituto interino na pasta, até o fim do ano. A proximidade entre Bento e Roma, ambos baianos, reflete redes de confiança no bolsonarismo regional, mas não há menções públicas a envolvimento de Bento nas investigações da PF.
O banco opera como instituição comercial (CNAE K-6421-2/00), no Grupo A de recolhimento compulsório, com sede na Av. Brigadeiro Faria Lima, 3.477, em São Paulo (SP). Seu site (www.bancopleno.com.br) e portal de RI (ri.bancopleno.com.br) destacam produtos como CDBs, cartões consignados e microcrédito, com convênios em estados como Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo.
O Pleno enfatiza inovação e conformidade, com planos de expansão lançados em novembro de 2025, incluindo lojas físicas, call center e campanhas. Seus CDBs oferecem remuneração inicial de 100% do CDI, mas no mercado secundário, as taxas dispararam para 165% do CDI logo após a prisão de Lima, recuando para cerca de 130% nesta semana – sinal de percepção de risco por investidores, segundo analistas da Varos Research. O CredCesta, operado via PKL One (ligada ao grupo de Lima), continua ativo para servidores, com descontos em folha, mas enfrenta escrutínio: no Rio de Janeiro, o Rioprevidência repassava R$ 25 milhões mensais ao Pleno, em carteira de R$ 1 bilhão investida no Master.
A prisão de Augusto Lima em 18 de novembro, ao lado de Vorcaro, na Operação Compliance Zero, investiga fraudes de R$ 12 bilhões em carteiras fictícias de consignado vendidas ao BRB (Banco de Brasília). Lima, que deixou o Master em maio de 2024, é acusado de envolvimento em operações anteriores à sua saída, segundo a PF. Na casa do empresário, foram encontrados R$ 1,6 milhão em espécie. O STJ negou habeas corpus na terça-feira (25), mantendo a prisão temporária.
Em nota, o Banco Pleno esclarece: "Não é alvo da operação Compliance Zero e não há nenhuma participação da Instituição nos fatos apurados; as investigações referem-se ao Banco Master, com o qual o Banco Pleno não mantém nenhuma relação societária". A defesa de Lima afirma que ele se desligou do Master em maio de 2024 e que "a apuração demonstrará a absoluta inexistência de vínculo" com as fraudes recentes. O banco reforça operação normal, com "continuidade de serviços e obrigações".
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