Nesta sexta-feira (17), a Polícia Civil paulista executa sete ordens judiciais de busca e apreensão visando desmantelar uma organização criminosa acusada de produzir e comercializar destilados contaminados por metanol, substância que provocou o falecimento de pelo menos duas indivíduos. A iniciativa representa uma extensão da ofensiva realizada na semana anterior, quando autoridades identificaram o galpão ilegal responsável pela origem das embalagens counterfeit localizadas em São Bernardo do Campo, região metropolitana da capital.
De acordo com as apurações policiais, o empreendimento irregular adquiria etanol diretamente de bombas de abastecimento veicular, material presumivelmente já impuro. Durante aquela incursão inicial, uma mulher foi detida no ato por supostamente comandar o processo de fabricação ilícita. Agora, entre os investigados na etapa atual, figuram membros de seu círculo familiar incluindo o genitor, o antigo cônjuge e outra senhora, todos sob suspeita de participação na cadeia de distribuição.
As diligências revelaram que o clã comercializava o produto adulterado que resultou na internação de Claudio Baptista, vítima que apresentou complicações severas após ingerir a substância em um estabelecimento noturno situado no bairro da Saúde, área sul de São Paulo. Esse episódio se conecta aos tristes desfechos de Ricardo Lopes Mira, 54 anos, e Marcos Antônio Jorge Junior, 46 anos, ambos intoxicados em um local similar na Mooca, distrito leste da cidade, culminando em seus óbitos. Assim, acumulam-se ao menos três incidentes diretamente atrelados ao antro de produção clandestino desbaratado nos dias prévios.
Além disso, os agentes rastrearam o fornecedor de recipientes, conhecido como "garrafeiro", que abastecia o esquema com frascos para o envase das misturas perigosas. A operação desta sexta-feira também identificou uma nova central de distribuição de frascos contendo líquidos alcoólicos manipulados na capital paulista, ampliando o escopo da rede criminosa.
As investigações, iniciadas a partir de um flagrante contra um dos principais distribuidores de falsificações no país em 3 de outubro, integram a Operação Poison Source (Fonte do Veneno), coordenada pela delegada Leslie Caran Petrus, da Delegacia de Meio Ambiente. Essa ofensiva mais ampla, deflagrada em 14 de outubro, mobilizou cerca de 150 policiais para cumprir 20 mandados em oito municípios, como Santo André, Poá, São José dos Campos, Santos, Guarujá, Presidente Prudente e Araraquara. Foram recolhidos itens como maquinário, matérias-primas, aparelhos telefônicos e papéis que corroboram os delitos, além de produtos finais contaminados.
Perícias no Instituto de Criminalística confirmaram concentrações de metanol variando de 10% a 45% nas amostras, frequentemente adicionado deliberadamente para diluir o volume ou proveniente de desvios em combustíveis. O secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, destacou que "a fábrica comprava etanol adulterado com metanol de postos de combustíveis", apontando para uma possível rede mais extensa envolvendo fraudes em importações ilegais por grupos organizados.
No contexto estadual, São Paulo registra 28 casos confirmados de envenenamento por metanol até o momento, com cinco óbitos atestados três na capital, um em São Bernardo do Campo e outro em Osasco, e mais três sob análise. Nacionalmente, o Ministério da Saúde contabiliza 32 confirmações em 13 estados, 181 em apuração e 320 descartadas, com ênfase em vodcas e uísques falsificados. Bares e adegas foram alvos de interdições, incluindo pontos nos Jardins, Vila Mariana e Mooca, onde 800 garrafas suspeitas foram confiscadas entre 14 e 15 de outubro, totalizando cerca de 50 mil unidades apreendidas na operação inicial.
O governo estadual instituiu um gabinete de crise para acompanhar denúncias via Disque 197, enquanto a indústria de bebidas firmou acordo para implementar selos de veracidade em pontos de venda. Especialistas alertam que o metanol, usado indevidamente para baratear custos, causa danos neurológicos irreversíveis, cegueira e falência orgânica, com tratamento dependente de hemodiálise e antídotos como fomepizol, escasso no Brasil. A Polícia Federal e o Ministério da Agricultura prosseguem fiscalizações em Sorocaba e Grande São Paulo para coibir novas contaminações.
Deixe sua opinião!
Assine agora e comente nesta matéria com benefícos exclusivos.
Sem comentários
Seja o primeiro a comentar nesta matéria!
Carregando...