O inquérito da chamada Operação Spoofing foi aberto no final de 2019. Durante dois anos e meio, a Polícia Federal conduziu uma investigação sigilosa para apurar a existência de mandantes e pagamentos aos hackers acusados de invadir o Telegram do ex-procurador Deltan Dallagnol e, em seguida, divulgar as mensagens para o site “The Intercept Brasil”. Moro e Dallagnol foram procurados pela reportagem, mas ainda não se manifestaram.
Walter Delgatti Neto, um dos integrantes do grupo, foi o responsável por capturar as conversas privadas dos integrantes da força-tarefa de Curitiba. Durante a investigação, a Polícia Federal analisou uma série de depósitos suspeitos nas contas dos hackers entre 2018 e 2019, quando eles foram presos, e concluiu que foram oriundos de fraudes bancárias praticadas anteriormente por alguns deles.
A PF fez uma perícia em todo o material apreendido pela Operação Spoofing. Nas contas de Delgatti, por exemplo, havia depósitos que totalizavam R$ 83.430, de novembro de 2018 a abril de 2019, mas não ficou estabelecido “qualquer vínculo com possíveis mandantes das invasões aos dispositivos eletrônicos de autoridades públicas”.
“Analisadas, nos e-mails e demais materiais apreendidos, bem como nas movimentações financeiras realizadas, e confrontando essas transações com o conteúdo examinado, não foi possível identificar um agente que tenha requerido aos réus que iniciassem ou continuassem as invasões aos dispositivos sob o fornecimento de qualquer tipo de vantagem ou promessa de fornecê-la”, diz o relatório da PF.
De acordo com o parecer, assinado pelo delegado Fábio Shor, os elementos obtidos pela PF “não permitem concluir a existência de uma terceira pessoa que teria selecionado os alvos e determinado a invasão de seus dispositivos” e que as provas colhidas indicam que os alvos foram selecionados pelo próprio Walter Delgatti Neto.
Procurado pela CNN, o advogado de Delgatti, Ariovaldo Moreira, disse que não se surpreende com o desfecho do inquérito porque a “defesa sustenta desde o início que Walter agiu sem motivação política, financeira ou a mando de terceiros. Simplesmente, na qualidade de cidadão, divulgou atitudes que considerou ilícitas cometidas pelos operadores da Lava Jato”.
Em dezembro de 2020, em entrevista exclusiva ao analista de política da CNN Caio Junqueira, Delgatti afirmou que não havia recebido para capturar as mensagens.
“Não, ninguém pagou. No começo, eu até pensei [em ganhar dinheiro com as mensagens], para ser bem sincero. Mas comecei a entender o que eu estava fazendo. A Manuela [d’Ávila, ex-deputada federal], assim que eu comecei a conversa com ela, ela perguntou: ‘o que você quer por isso? Quanto você quer por isso?’ Eu disse que não queria nada em troca e que ia enviar, e queria apenas justiça. Foi quando ela me passou o contato do Glenn [Greenwald, jornalista americano fundador do site The Intercept, que divulgou trechos das conversas hackeadas].”
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