Parlamentares destinam milhões a clubes de futebol para projetos sociais e profissionais

Verbas públicas financiam desde categorias de base até salários de equipes principais
Por: Brado Jornal 11.ago.2025 às 08h07
Parlamentares destinam milhões a clubes de futebol para projetos sociais e profissionais
Foto: Alexandre Cassiano/O GLOBO
Nos últimos três anos, deputados e senadores direcionaram ao menos R$ 13,5 milhões do Orçamento para 31 clubes de futebol, segundo apuração do GLOBO. O volume de recursos cresceu em 2024, alcançando R$ 10,5 milhões, após o Supremo Tribunal Federal (STF) intensificar restrições a emendas para ONGs e prefeituras aliadas. Embora a maioria das verbas seja justificada por projetos sociais, como o fortalecimento de categorias de base para crianças e adolescentes, há casos em que o dinheiro foi aplicado em times profissionais.

Um exemplo é o CSA, de Maceió, que recebeu R$ 1 milhão em emenda do senador Renan Calheiros (MDB-AL), torcedor do clube. Segundo a prestação de contas enviada ao Ministério do Esporte, R$ 652 mil custearam a folha de pagamento de profissionais como fisioterapeuta, roupeiro, preparadores físicos e técnicos, além de jogadores da base. Outros R$ 224,5 mil foram destinados ao chefe do departamento médico do time principal. Mirian Monte, presidente do CSA, reconhece o uso do recurso para a equipe de apoio ao elenco profissional, mas destaca que ele também viabilizou a manutenção das categorias de base.

— “Essa emenda foi o que salvou um ano muito complicado do CSA, na manutenção da base. Com esse recurso, a gente conseguiu fazer a base funcionar” — afirmou Mirian.Renan Calheiros, por sua vez, defendeu que a emenda visava a formação de jogadores e apoia investigações sobre possíveis desvios. — “A emenda foi apresentada para a formação de jogadores. Se o clube usou de forma diferente, sou totalmente favorável ao esclarecimento” — disse o senador.

O Ministério do Esporte informou que, caso seja comprovado uso indevido, os clubes terão de devolver os recursos. — “Todos os termos mencionados são oriundos de emenda parlamentar, portanto, de execução obrigatória. E tanto sua destinação, quanto o objeto da execução também são de indicação dos parlamentares” — declarou o órgão.

Outro caso é o do Operário Futebol Clube, de Campo Grande (MS), que recebeu R$ 1,5 milhão da senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS). Durante evento na capital, ao lado dos ex-jogadores Cafu e Pretinha, ela anunciou que R$ 1 milhão seria para o time feminino e R$ 500 mil para o masculino. — “O futebol feminino precisa e merece mais visibilidade, estrutura e valorização” — declarou Soraya. A assessoria da senadora afirmou que a destinação segue as regras de emendas parlamentares, mas o clube não se pronunciou.

Em Minas Gerais, o Ideal Futebol Clube, de Ipatinga, lidera o ranking de emendas, com R$ 2,5 milhões recebidos desde 2024. O deputado Marcelo Álvaro Antônio (PL-MG) destinou R$ 1 milhão para atividades esportivas voltadas a jovens de 6 a 19 anos, enquanto a deputada Rosângela Reis (PL-MG) enviou R$ 1,2 milhão para projetos com crianças e idosos. — “Tem uma finalidade social” — afirmou Rosângela. João Osório, presidente do clube, destacou que o Ideal desenvolve iniciativas além do futebol.

Já o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), torcedor do Cruzeiro, direcionou R$ 400 mil ao União Futebol Clube, de Divino (MG). Segundo Sidiclei Martins da Silva, presidente do clube, o recurso foi articulado por um conhecido no gabinete do parlamentar e será usado nas categorias de base. — “Conhecia uma pessoa no gabinete do Nikolas. Mandei um ofício solicitando apoio. O Nikolas foi muito bem votado aqui na Zona da Mata, e esse tipo de apoio ao esporte acaba ajudando” — disse Sidiclei. Nikolas afirmou que a escolha do beneficiário seguiu critérios legais, sem especificar motivos.

Em Raul Soares (MG), o Operário Esporte Clube usou R$ 400 mil de emenda do deputado Lincoln Portela (PL-MG) para equipar seu campo de treinamento com traves, placar eletrônico e bandeiras de escanteio. — “O trabalho que esse clube sempre fez foi de excelência” — declarou Portela.

Enquanto isso, cidades como Maceió, Campo Grande e Ipatinga enfrentam desafios como saneamento básico precário, obras paradas e moradias em áreas de risco, levantando questionamentos sobre as prioridades no uso das verbas públicas.


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