Um relatório elaborado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), contratada pela Secretaria de Infraestrutura de Transportes, Energia e Comunicação do Estado da Bahia (Seinfra) por R$ 4,9 milhões, revelou falhas significativas no andamento do projeto da Ponte Salvador-Itaparica. Assinado em 27 de dezembro de 2024 e publicado no Diário Oficial do Estado no dia seguinte, o documento, intitulado 7º Relatório de Acompanhamento Consolidado, identifica “pontos pendentes” de “relevância crítica” que comprometem a execução da obra.
Entre as irregularidades apontadas, destaca-se a ausência de um cronograma de implementação viável. O Consórcio Ponte Salvador Ilha de Itaparica (CPSI), responsável pela obra, apresentou um planejamento inicial rejeitado pela Seinfra por não ser exequível. Um novo cronograma deveria ter sido entregue até 21 de julho, mas o prazo não foi cumprido. Além disso, o consórcio falhou na apuração dos índices de desempenho previstos no Sistema de Gestão Integrada (SGI), cujo relatório de junho deveria ter sido apresentado em 4 de julho. A Seinfra notificou o CPSI para esclarecer a ausência desses indicadores, mas não obteve resposta.
O documento também revelou problemas nas poligonais de Salvador e Vera Cruz, que delimitam as áreas destinadas à obra. Enviadas em 7 de julho, as poligonais apresentavam inconsistências, e a Seinfra solicitou correções, mas não houve retorno. Como consequência, o Plano de Desapropriações, Indenizações e Reassentamentos, essencial para definir diretrizes e valores para a desocupação das áreas, está em revisão, com o cadastro imobiliário e socioeconômico paralisado.
Outro ponto crítico é o Fundo Garantidor do Aporte da Ponte (FGAP). Segundo a Fipe, após o Primeiro Termo Aditivo, que ampliou os aportes públicos, o fundo precisa de ajustes para garantir o pagamento do projeto. “Na oportunidade, o CPSI pontuou que a insuficiência atual do FGAP pode impactar o processo de captação de financiamento para o projeto, providência que já teria sido iniciada pela Concessionária”, afirmou o relatório. O consórcio solicitou adequações ao Governo do Estado.
A Seinfra também questionou mudanças no quadro societário do CPSI, exigindo comprovantes de que a escolha da Concremat Engenharia e Tecnologia S.A. para elaboração do projeto seguiu condições equitativas de mercado, já que a empresa pertence a um dos acionistas do consórcio. Além disso, a secretaria cobrou comunicação imediata sobre alterações societárias, conforme previsto no contrato.
No âmbito ambiental, o relatório apontou falhas no licenciamento. O CPSI apresentou mudanças na metodologia construtiva offshore que afetam o licenciamento da Plataforma Linear Provisória. “A Seinfra verificou que o processo foi formado pela Concessionária no Inema sem a documentação mínima exigida pelo órgão, o que pode gerar atrasos na obtenção da autorização”, informou a Fipe.
“A Seinfra abriu um processo administrativo e encaminhou à PGE (Procuradoria-Geral do Estado) para avaliação das justificativas, pela Concessionária, referentes a esse descumprimento contratual e à necessidade de instauração de um processo sancionador”, destacou o documento.
Durante um evento em Salvador no dia 3 de setembro de 2025, o governador Jerônimo Rodrigues (PT) reagiu a questionamentos sobre possíveis atrasos na obra. “Vi um vídeo, não sei de quem foi, negócio ridículo. Aquilo é fake. Parece que tem gente torcendo contra. Eu vi um rapaz colocando situações... Ofereço àquele rapaz as informações, coloco minha equipe hoje para explicar que aquilo é especulação. Parece que estão torcendo contra a ponte, é impressionante. Espalharam um discurso que não está tendo diálogo com as comunidades tradicionais, é mentira isso, fake”, disse.
A declaração foi criticada por ACM Neto, ex-prefeito de Salvador e vice-presidente nacional do União Brasil. “Vocês sabem o que o Jerônimo está chamando de fake? Um relatório da Fipe, uma das instituições mais respeitadas do Brasil. A Fipe foi contratada pelo próprio Governo da Bahia, que pagou R$ 5 milhões para avaliar o andamento da ponte Salvador-Itaparica. Quer dizer, eles pagam milhões por um estudo, recebem um relatório sério e quando não gostam do resultado dizem que é mentira”, afirmou Neto.
O Governo do Estado e o consórcio foram procurados para esclarecimentos, mas não responderam. O espaço permanece aberto para manifestações.
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