O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), conhecido como Zero Três, divulgou em 1º de junho de 2025 um vídeo em que presta homenagens a figuras históricas do nacionalismo brasileiro, como Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek (JK) e João Goulart (Jango). A produção, cujos detalhes de bastidores foram revelados pela Folha de S.Paulo, também inclui referências positivas ao presidente húngaro Viktor Orbán, líder de um regime nacionalista e autocrático de direita. Durante a gravação, Eduardo recebeu orientação de Aldo Rebelo (MDB-SP), ex-ministro nos governos Lula e Dilma, um dos principais inspiradores do conteúdo.
Raphael Machado, fundador e presidente da organização Nova Resistência, classificou o material como "excelente". O grupo, que se define como uma rede política dissidente contra o neoliberalismo, o atlantismo e o que chama de lobby sionista, tem forte afinidade com o expansionismo russo sob Vladimir Putin e com as ideias de Aleksandr Dugin, o filósofo russo considerado um dos principais teóricos do Kremlin. Dugin, autor da "Quarta Teoria Política" uma proposta que mescla elementos de extrema-direita e extrema-esquerda para desafiar a ordem liberal global, é visto como um "guru" do nacionalismo eurasiano, influenciando movimentos que buscam desestabilizar democracias ocidentais.
A Nova Resistência, fundada em 2015 e com site registrado em Moscou, é descrita por relatórios do Departamento de Estado dos EUA como uma entidade "neofascista", "pró-Rússia" e "quase paramilitar", capaz de unir alas opostas do espectro político para promover desinformação pró-Kremlin. No Brasil, o movimento já foi enquadrado como "grupo extremista violento não islâmico" em avaliações do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e do Banco Central, destacando riscos à segurança nacional. Apesar de críticas ao bolsonarismo em textos antigos como um de 2020 que o acusa de não ser "nem nacionalista nem fascista" por gestos pró-EUA, como a continência à bandeira americana em 2017, o grupo tem se aproximado de narrativas nacionalistas recentes, incluindo eventos com Rebelo, autor de "O Quinto Movimento", obra inspirada nas teses de Dugin adaptadas ao contexto brasileiro.
Enquanto isso, o jornalista Mauro Lopes, organizador do livro "Lula e a Espiritualidade" e amigo pessoal do presidente Lula apesar de discordar de algumas políticas do governo, interpretou o vídeo de Eduardo como "um giro muito significativo" no bolsonarismo. Em análise ao Painel da Folha, Lopes alertou para os perigos de a direita capturar bandeiras tradicionalmente esquerdistas. "Enquanto Lula se aproximou de governos liberais-democratas, como os de Macron na França e Biden (antecessor de Trump nos EUA), abriu mão de bandeiras históricas nacionalistas da esquerda, que podem ser assumidas pelo campo adversário", afirmou ele. Essa visão ganha contexto em meio ao recente tom nacionalista adotado por Lula, com slogans como o exibido em bonés durante reunião ministerial em agosto de 2025, em resposta a tarifas impostas por Donald Trump, e críticas ao deputado Eduardo por articulações nos EUA que favoreceram retaliações americanas contra o Brasil, incluindo suspensões de vistos a autoridades como o ministro Ricardo Lewandowski.
O episódio reflete tensões maiores no cenário político brasileiro, onde narrativas nacionalistas multipolares – opostas à hegemonia ocidental – circulam entre campos ideológicos díspares, influenciadas por figuras como Dugin e eventos globais como a guerra na Ucrânia. A proximidade de Rebelo com a Nova Resistência, inclusive em publicações e palestras, reforça preocupações sobre a disseminação de ideias que misturam soberania nacional com autoritarismo estrangeiro.
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