Os Correios enfrentam uma crise financeira agravada desde 2022, com prejuízos que atingiram R$ 2,6 bilhões em 2024, um salto de quase quatro vezes em relação aos R$ 597 milhões registrados em 2023. A estatal, que já havia enfrentado perdas entre 2013 e 2016, voltou a registrar resultados negativos após um período de recuperação entre 2017 e 2021. Especialistas apontam que a combinação de má gestão e mudanças no mercado, com aumento da competitividade e avanços tecnológicos, explica o cenário atual.
“É um problema concreto nos Correios, decorrente de má gestão histórica”, afirmou Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.
A economista e advogada Elena Landau complementa: “Os Correios enfrentam uma mudança estrutural, que não começou em 2023, vem de muito tempo”.
Origem do rombo e impacto da “taxa das blusinhas”
A estatal atribui o prejuízo de 2024 à taxação de 20% sobre compras internacionais de até US$ 50, apelidada de “taxa das blusinhas”, sancionada em 27 de junho pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A medida, aprovada pelo Congresso a pedido do varejo nacional, visava proteger a indústria local, mas reduziu o volume de compras em plataformas como Shein e Shopee, impactando diretamente as entregas dos Correios.
“A frustração de receita observada em 2024 decorre exclusivamente dos efeitos do novo marco regulatório das compras internacionais — uma demanda do varejo nacional que teve impacto positivo para o setor, mas negativo para os Correios”, informou a estatal em nota.
No entanto, especialistas questionam a explicação. “Não faz muito sentido, porque outras companhias que oferecem os mesmos serviços, como o Mercado Livre, não registraram prejuízo semelhante”, destacou Sérgio Vale. Elena Landau reforça: “Não é possível culpar apenas a taxa das blusinhas pela falta de eficiência na gestão da empresa”.
Histórico de prejuízos
Os problemas financeiros dos Correios começaram em 2013, com um déficit de R$ 313 milhões. Em 2015, o rombo alcançou R$ 2,1 bilhões, seguido de R$ 1,5 bilhões em 2016. Após ajustes entre 2017 e 2021, a estatal voltou a registrar perdas em 2022, com R$ 767,5 milhões, culminando no déficit recorde de 2024.“O governo criou um rombo bilionário nas estatais, porque a filosofia é utilizá-las para gastos e expansão, sem muito critério de eficiência”, criticou Elena Landau.
Estratégias para recuperação
Para reverter o cenário, o governo articula empréstimos de R$ 20 bilhões, divididos em R$ 10 bilhões para 2025 e R$ 10 bilhões para 2026, com garantia do Tesouro Nacional, conforme apurado pela CNN e publicado pela Folha de S. Paulo. Além disso, os Correios planejam ações como a venda de imóveis, um programa de demissões voluntárias e a criação de um marketplace em parceria com a Infracommerce. Há também negociações com o New Development Bank (NDB) para captar R$ 3,8 bilhões em investimentos.
A nova gestão, liderada por Emmanoel Schmidt Rondon, funcionário de carreira do Banco do Brasil, assumiu em setembro com o desafio de recuperar a estatal. A escolha reflete a busca por um perfil técnico, segundo fontes do governo, para evitar críticas de indicações políticas. As medidas de contenção de despesas podem gerar economias de até R$ 1,5 bilhão em 2025, mas o Planalto avalia que as ações foram implementadas tardiamente.
Perspectivas e críticas
Especialistas como Sérgio Vale defendem a privatização como solução definitiva. “Os Correios vão continuar drenando recursos do governo porque é uma empresa cuja existência não faz mais sentido. Temos empresas privadas que fazem o mesmo serviço e melhor”, argumentou. Ele acrescenta: “O mundo mudou. Há 30 ou 40 anos, os Correios faziam sentido no mundo analógico. Hoje, no mundo digital, uma empresa pública nessa área perde o sentido econômico”.
A crise dos Correios reflete desafios estruturais e de gestão que exigem respostas urgentes para evitar um colapso financeiro ainda maior.
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