Partidos de esquerda solicitam apuração no Supremo sobre ação letal na capital fluminense

Legendas políticas denunciam abusos em operação que resultou em 121 óbitos e questionam o equilíbrio entre baixas e material bélico confiscado pela PM
Por: Brado Jornal 03.nov.2025 às 11h03
Partidos de esquerda solicitam apuração no Supremo sobre ação letal na capital fluminense
Imagem: Mauro Pimentel / AFP
Em 31 de outubro de 2025, uma sexta-feira marcada por tensões políticas, as siglas PT, Psol e PC do B apresentaram ao Supremo Tribunal Federal (STF) um requerimento de urgência para examinar a operação policial realizada no Rio de Janeiro, que causou a morte de 121 indivíduos, entre eles quatro agentes da lei. A iniciativa, direcionada ao ministro Alexandre de Moraes, responsável pela ADPF 635 também chamada de “ADPF das Favelas", busca impor ações que promovam clareza nas apurações e contenham possíveis excessos contra os direitos fundamentais da população das favelas cariocas.

A petição enfatiza a disparidade alarmante entre as fatalidades registradas e os itens de armamento capturados: apenas 118 armas foram recolhidas, incluindo 91 fuzis, o que levanta suspeitas sobre a proporcionalidade da resposta das forças de segurança. “Os números, por si só, demonstram o tamanho e a gravidade das violações de direitos humanos. Ao fim, a polícia do Rio de Janeiro matou mais do que prendeu. O número de corpos é maior que o número de armas apreendidas. Ou seja, para cada duas pessoas, morta ou presa, foi apreendida apenas uma arma.”

A operação, batizada de Contenção, teve início em 28 de outubro de 2025, uma terça-feira, e se concentrou nos complexos do Alemão e da Penha, abrangendo 26 comunidades na zona norte da cidade. Seu objetivo principal era desmantelar estruturas do Comando Vermelho (CV), após investigações que duraram mais de um ano, lideradas pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE). A Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMERJ) atuou com o Comando de Operações Especiais (COE) e destacamentos da capital e da região metropolitana.

No balanço oficial, a ação levou à detenção de 113 suspeitos, dos quais 33 oriundos de Estados vizinhos, além da apreensão de 10 adolescentes. As autoridades também confiscaram mais de uma tonelada de entorpecentes. Entre as vítimas fatais, destacam-se 60 supostos membros de organizações criminosas e os quatro policiais, incluindo o titular da 53ª Delegacia de Polícia (DP), em Mesquita, Marcus Vinicius. Essa intervenção é apontada como a mais mortal da história brasileira, ultrapassando o massacre do Carandiru, ocorrido em 1992 em São Paulo, com 111 detentos mortos.

Os partidos apontam indícios de graves irregularidades, como o tratamento inadequado dos cadáveres no Instituto Médico Legal (IML) do Rio, onde os corpos foram expostos em ambientes insalubres, com relatos de “corpos espalhados pelo chão e ao ar livre”, além de “relatos de decapitações, de corpos encontrados com mãos amarradas, de tiros pelas costas e na nuca”. Há ainda preocupação com a “necessidade de preservação dos corpos que já estão a entrar em estado de putrefação”. A petição requer a inclusão de peritos independentes nas análises da Polícia Civil para assegurar isenção e visibilidade.

Outro ponto de crítica é o desfile do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) diante do IML, interpretado como um “cortejo em forma de menosprezo à dor” das famílias que buscavam notícias sobre seus entes queridos, configurando, segundo o documento, uma “brutal violação aos direitos humanos”.

Entre as sete providências solicitadas ao STF, constam a divulgação de uma relação nominal das vítimas e o paradeiro dos corpos em até 48 horas; uma vistoria imediata da Anvisa nas instalações do IML; autorização para que as famílias acessem os restos mortais sem demora; simplificação de trâmites burocráticos; extensão do expediente em cartórios e serviços periciais; e a participação do Psol e do PC do B como amici curiae na ADPF 635, ação julgada em abril de 2025 com o intuito de mitigar abusos em incursões policiais nas comunidades do Rio de Janeiro.


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