O maior fornecedor de carne de frango para o mercado chinês, o Brasil, volta a ter acesso irrestrito às exportações de aves e derivados para o país asiático, após uma suspensão de quase seis meses decorrente de um foco de gripe aviária detectado em maio. A decisão, que entra em vigor imediatamente, baseia-se em uma avaliação técnica de riscos realizada pelas autoridades chinesas, aliviando pressões sobre produtores brasileiros e estabilizando fluxos comerciais globais afetados pela interrupção. Como líder mundial em exportações avícolas, representando cerca de 35% do comércio internacional, o Brasil registrou vendas de aproximadamente US$ 10 bilhões em 2024, com a China absorvendo uma fatia significativa desse volume, o que torna o levantamento do veto um marco para a recuperação econômica do setor.
A Administração Geral de Alfândega da China (GACC) formalizou a revogação em um comunicado datado de 31 de outubro, mas publicado nesta sexta-feira (7). "Com base nos resultados da análise de risco", a proibição foi suspensa com efeito imediato, conforme o texto oficial. O embargo havia sido imposto em maio, logo após a confirmação do primeiro surto de influenza aviária altamente patogênica (HPAI) em uma granja comercial no estado do Rio Grande do Sul, especificamente na cidade de Montenegro. Esse episódio, inédito na avicultura brasileira em escala comercial, desencadeou uma série de barreiras comerciais internacionais, incluindo da União Europeia e da Coreia do Sul, que foram gradualmente removidas conforme o controle da doença.
Autoridades brasileiras, lideradas pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, intensificaram negociações diplomáticas ao longo dos meses para reverter as restrições. Em julho, durante a cúpula do BRICS no Rio de Janeiro, Fávaro pressionou por reconhecimento da condição de país livre da doença, destacando medidas de contenção rigorosas implementadas desde o início do surto.
"Agora, estamos solicitando o reconhecimento de que o Brasil está livre de gripe aviária", afirmou o ministro na ocasião. O período de monitoramento de 28 dias, iniciado em 22 de maio e concluído em 18 de junho, permitiu que o país declarasse o foco resolvido, com a Organização Mundial de Saúde Animal (WOAH) endossando o status sanitário em junho. Desde então, biosseguridade reforçada, como controles estritos de transporte de animais e rações, evitou novos incidentes.
O impacto do veto chinês foi profundo: exportações de carne de frango in natura caíram 23% em junho, para 314 mil toneladas, segundo dados governamentais, forçando redirecionamento de cargas para mercados alternativos como os Estados Unidos e a Tailândia. Empresas como a BRF, uma das maiores processadoras do setor, relataram queda de 5% nas vendas avícolas no segundo trimestre, embora margens operacionais tenham superado expectativas graças a ajustes logísticos. Analistas estimam perdas totais entre 10% e 20% das exportações avícolas brasileiras no período, agravadas por restrições regionais mantidas em alguns casos, como para produtos do Rio Grande do Sul até agosto, devido a um surto separado de doença de Newcastle.
Outros blocos também responderam positivamente: a União Europeia, que impôs embargo similar, reconheceu o Brasil como livre de gripe aviária em setembro, com o comissário europeu de Saúde, János Varhelyi, declarando: "Ministro Fávaro, tenho boas notícias: nossa avaliação é que os dados fornecidos pelo seu ministério são suficientes para reconhecer que o Brasil está livre de influenza aviária". Essa liberação permitiu a retomada de envios para o bloco, que absorve cerca de 20% das exportações brasileiras. Países como a Argentina mantiveram embargos parciais, mas o otimismo prevalece, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacando, em reuniões bilaterais com o premiê chinês Li Qiang, a importância de protocolos ágeis para retomar compras.
Especialistas do setor, como os da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), veem o movimento como um sinal de confiança nas estruturas sanitárias do Brasil, que evitou uma propagação ampla da doença ao contrário de surtos nos EUA, que dizimaram rebanhos em 2022. No entanto, o episódio reforça a necessidade de diversificação de mercados e investimentos em prevenção, em um contexto de tensões comerciais globais. Com o veto chinês revogado, projeções indicam recuperação de até 495 mil toneladas anuais para Pequim, volume que representava quase metade das importações chinesas de frango em 2024. O setor agora foca em monitoramentos contínuos para sustentar o status sanitário e explorar demandas crescentes por proteínas livres de promotores de crescimento antibiótico.
Deixe sua opinião!
Assine agora e comente nesta matéria com benefícos exclusivos.
Sem comentários
Seja o primeiro a comentar nesta matéria!
Carregando...