A morte do ex-deputado estadual Paulo Frateschi, aos 75 anos, chocou o meio político nesta quinta-feira (6), quando ele foi atacado com golpes de faca pelo filho Francisco Frateschi, de 34 anos, durante um episódio de surto psicótico na residência da família, localizada na Rua Ponta Porã, no bairro da Lapa, zona oeste da capital paulista. Frateschi, que se recuperava de um tratamento contra o câncer, foi encontrado caído na cozinha do imóvel com ferimentos graves no abdômen, na cabeça e no braço, e levado ao Hospital das Clínicas em parada cardiorrespiratória, onde não resistiu. A esposa do político, Yolanda Maux Vianna, tentou intervir e sofreu uma fratura no braço, sendo atendida em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) local com lesões leves; ela e o filho moram em Paraty (RJ), onde a família possuía um barco, e estavam em São Paulo para acompanhamento psiquiátrico de Francisco, que usava medicamentos desde o final de outubro e sofria com sequelas de um acidente de carro anterior, incluindo o uso de muletas devido a uma perna encurtada.
Fundador do Partido dos Trabalhadores (PT) e ex-presidente estadual da legenda em São Paulo, Frateschi integrou a Ação Libertadora Nacional (ALN) na luta armada contra a ditadura militar, sendo preso e torturado em 1969. Sua trajetória política incluiu mandatos como vereador na capital paulista e deputado estadual entre 1983 e 1987, além de cargos como secretário de Relações Governamentais na gestão Fernando Haddad na Prefeitura de São Paulo, em 2014. Irmão do ator e dramaturgo Celso Frateschi, ele era conhecido por sua coragem e compromisso com a democracia, como destacou o prefeito Fernando Haddad em nota de pesar: "Companheiro querido, homem fraterno e referência de compromisso público e político no Brasil. Ex-presidente estadual do PT em São Paulo e dirigente histórico do partido, foi defensor incansável da democracia, com coragem e determinação".
A família já carregava o peso de perdas devastadoras. Em fevereiro de 2002, enquanto Frateschi presidia o PT paulista, o filho Pedro, de 7 anos, faleceu em um capotamento na Rodovia Carvalho Pinto, em Guararema (SP), durante o retorno de férias em Paraty (RJ). O Estadão registrou que Yolanda perdeu o controle do veículo após ser fechada por outro carro; Pedro morreu no local, e a irmã Beatriz, que também estava no automóvel, sofreu ferimentos.
Pouco mais de um ano depois, em julho de 2003, outro filho, Júlio, de 16 anos, morreu em acidente similar na Rodovia Rio Santos, entre Paraty e Angra dos Reis (RJ). Júlio viajava com a irmã Luiza, de 19 anos, para buscar primos na rodoviária de Paraty quando o carro capotou na madrugada. Ele sofreu traumatismo craniano e perfuração nos pulmões, ficando internado por cinco dias em coma induzido; uma piora na pressão intracraniana levou à morte em 29 de julho. Luiza e os primos tiveram lesões leves. O então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, amigo próximo de Frateschi e em seu primeiro mandato, compareceu ao funeral no Cemitério Parque Jaraguá, acompanhado do senador Eduardo Suplicy e do presidente nacional do PT, José Genoíno.
A repercussão da morte foi imediata entre líderes petistas. Lula, que participa da COP30 em Belém (PA), enviou emissários à família e publicou uma mensagem de luto: "Perco um grande e leal companheiro, com quem compartilhei décadas de lutas por um Brasil mais justo. Paulo Frateschi uniu sua simpatia e sua capacidade agregadora a uma grande coragem".
O presidente nacional do PT, Edinho Silva, emitiu nota lamentando a perda de "companheiro e dedicado militante do nosso partido": "Durante toda a sua trajetória, nosso companheiro demonstrou coragem, integridade e compromisso com o PT e pela busca de um país mais justo. Paulo Frateschi deixa um legado, marcado pela luta pela justiça e pela inclusão. A ausência do nosso querido Frateschi deixa uma lacuna irreparável entre amigos, familiares, companheiras e companheiros de luta. Manifestamos à família, aos amigos e a todos que com ele caminharam, a nossa mais sincera solidariedade. Paulo Frateschi presente, hoje e sempre".
Outras lideranças, como Rui Falcão, também expressaram pesar pela tragédia que acometeu um "quadro histórico" do partido.
Francisco foi detido pela Polícia Militar no local e levado para interrogatório; segundo o boletim de ocorrência, o surto ocorreu após uma discussão, e ele era "foco de atenção especial" do pai devido à sua condição de saúde mental. O velório de Frateschi será realizado nesta sexta-feira (7) na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), aberto ao público a partir das 8h, com cortejo às 14h rumo ao Cemitério Memorial Parque Jaraguá, onde o sepultamento está marcado para 15h30.
O PT confirmou o falecimento e destacou o legado de militância de Frateschi em meio a uma vida marcada por adversidades pessoais e políticas.
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