No Ceará, a ala conservadora enfrenta divisões internas após a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro manifestar, em 30 de novembro de 2025, sua oposição à estratégia do PL de se aproximar de Ciro Gomes, do PSDB, que surge como potencial postulante ao Palácio da Abolição em 2026 e é considerado pelos seus apoiadores o adversário mais viável para desafiar o domínio petista na região. A posição de Michelle gerou tensão imediata com o deputado André Fernandes (PL), que comanda o diretório estadual da legenda e é o principal articulador dessa ponte política, desencadeando um embate público que expõe fragilidades na base de apoio à direita no estado.
O episódio veio à tona em meio a um ato realizado na capital cearense, dedicado ao anúncio da pré-campanha do senador Eduardo Girão (Novo) ao cargo de governador. Nesse contexto, Michelle, em sua fala, expressou admiração pela militância local, mas não poupou palavras contra a iniciativa de se aliar a alguém com histórico de oposição ao ex-presidente Jair Bolsonaro. “Tenho orgulho de vocês. Mas fazer aliança com um homem que é contra o maior líder da direita? Isso não dá”, declarou ela, visivelmente direcionando o recado ao grupo que impulsiona a parceria com o ex-governador.
André Fernandes, que assistia ao evento e reagiu com gestos de insatisfação enquanto era indiretamente visado, não deixou a provocação sem resposta. Logo após o discurso, o parlamentar saiu em defesa da manobra, enfatizando que ela contou com o endosso direto do próprio Bolsonaro. “A esposa do ex-presidente Bolsonaro vem aqui e diz que fizemos a movimentação errada, sendo que o próprio presidente, no dia 29 de maio, pediu para ligarmos para Ciro Gomes no viva-voz e ficou acertado que apoiaríamos o Ciro”, rebateu Fernandes, reforçando que a decisão também teria o aval de Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL.
Essa troca de farpas ganha contornos ainda mais delicados ao se considerar o histórico recente entre os envolvidos. Em outubro, Fernandes esteve presente na solenidade de filiação de Ciro ao PSDB, sinalizando o início de uma colaboração. Além disso, o deputado recebeu o respaldo do agora tucano durante sua disputa pela Prefeitura de Fortaleza, na qual foi derrotado pelo petista Evandro Leitão cujo nome foi impulsionado pelo presidente Lula. Tal proximidade contrasta com a visão de Michelle, que vê na aliança um risco à coesão ideológica da direita, especialmente em um estado onde o PT mantém forte influência e onde nomes como Girão buscam se posicionar como alternativas puras ao campo progressista.
O racha ilustra as dificuldades da oposição de centro-direita em se reorganizar para 2026, com Ciro emergindo como figura pivotal por sua capacidade de atrair eleitores moderados, mas ao custo de tensões com os bolsonaristas mais radicais. Aliados de Fernandes argumentam que o apoio a Gomes é tático e necessário para evitar uma vitória isolada do PT, enquanto o setor alinhado a Michelle prioriza a fidelidade ao legado de Bolsonaro, priorizando candidaturas sem "contaminações" passadas. O incidente, ocorrido em um domingo de forte presença midiática, pode agravar as negociações internas do PL no Ceará nos próximos meses.
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