O monstro que ganhou meu coração

Como passei da ojeriza a um carinho por Bolsonaro e o que isso tem a ver com fé cristã e política
Por: Zizi Martins 24.ago.2022 às 20h42
O monstro que ganhou meu coração

Como muitas pessoas da minha idade, esse pessoal incrível da geração X, frequentei escolas cujos professores sofreram direta ou indiretamente os piores anos do mais recente regime militar do Brasil e que encontraram no discurso marxista uma esperança para as suas almas órfãs de utopias e soluções para a opressão que sentiam.

Logo que finalizei o antigo segundo grau, tal era a minha empolgação com as ideias revolucionárias ensinadas por meus mais amados docentes que, já no primeiro emprego de professora aos 19 anos de idade, me filiei ao um sindicato ligado ao PT, que, àquela época, tinha alcançado a proeza de administrar a maior cidade do país tendo apenas poucos anos de instituído como partido.

Deixando de lado esse aspecto autobiográfico, por assim dizer, preciso falar do monstro que surgiu e que me atormentou.

Era um cara militar que virou deputado. Eu, assim como meu pai político, era assídua em acompanhar os embates na Câmara e a prestar atenção nas movimentações que ali ocorriam. Aquele sujeito esguio, um tanto corporativista, era uma lembrança incômoda da Ditadura contra a qual meus mestres aguerridos vociferavam.

Mais tarde e sempre frequente nas telas de miolo arco-íris, todas as aparições do monstro eram recheadas com exclamações sobre sua vinculação às “olivas assassinas” e seu intuito de restabelecer a exceção e a tortura. Mesmo uma deputada que interrompeu sua entrevista e o provocou de modo desleal, atrapalhando seu raciocínio sempre afiado contra a criminalidade, ao receber sua resposta infeliz sobre um pretenso imerecido estupro, teve da mídia consagrada a santificação quase papal. Ora, ela fazia jus a um manto imaculado. Afinal, era contra o esmagador da democracia que estava lutando.

E o auge de toda a construção da imagem monstruosa ocorreu no seu voto SIM ao impeachment da única mulher “presidenta” da história do Brasil ao homenagear a memória de um militar considerado o monstro-mor da República, coincidentemente o mesmo que denunciou o sufocamento do que reputava verdade sobre o período das trevas tupiniquins.

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