O influenciador digital Bruno Alexssander Souza Silva, popularmente chamado de Buzeira, de 28 anos e originário do bairro de Itaquera, na região leste da capital paulista, acabou detido preventivamente pela Polícia Federal nesta terça-feira (14), em Igaratá, cidade do interior paulista. A captura faz parte da Operação Narco Bet, que busca desmantelar uma rede criminosa dedicada à lavagem de capitais provenientes do comércio transnacional de entorpecentes, atuando em São Paulo, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Com uma audiência superior a 15 milhões de usuários em plataformas como o Instagram, Buzeira construiu sua fama ao organizar sorteios virtuais de veículos importados, bens de alto valor e campanhas de divulgação que mobilizavam multidões online. Seu estilo de vida, marcado por exibições de automóveis esportivos, acessórios caros como joias e relógios de edições limitadas, além de aeronaves particulares, sempre chamou atenção — e agora, sob suspeita de servir como fachada para transações ilícitas no ramo das apostas digitais, conhecidas como "bets".
Essa não é a primeira vez que o nome de Buzeira surge em investigações policiais. Em fevereiro, agentes da Polícia Civil de São Paulo executaram ordens judiciais da 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores, da Justiça da capital, em imóveis associados a ele na localidade de Mogi das Cruzes. Naquele episódio, peritos recolheram itens como uma identificação de um automóvel de luxo, um comunicado bancário sobre o fechamento de uma conta em Miami, nos Estados Unidos, e alertas de infrações relativos a outros dois veículos premium, tudo encontrado em sua residência de alto padrão em um condomínio exclusivo.
Pela internet, o próprio influenciador se manifestou na época, alegando inocência e esclarecendo o ocorrido: “Tive que ir à delegacia justificar. Estavam me associando a coisas com as quais eu não tinha nada a ver. Infelizmente, não tem o que fazer. A polícia… o papel dela é investigar e o meu papel é esclarecer as dúvidas que eles têm em relação a mim. Comprei um carro, e esse carro estava associado a outras pessoas que eu não conhecia. Resumindo, eu tive que ir lá me justificar. Certo? Então, foi isso que aconteceu e é marcha no QR”.
Além das controvérsias financeiras, Buzeira coleciona episódios midiáticos que misturam glamour e tensão. Em julho, seu matrimônio avaliado em cerca de R$ 10 milhões virou notícia por uma adaptação polêmica da tradição da "gravata": em vez de doações em espécie, convidados foram incentivados a contribuir com objetos de valor, como joias e relógios, gerando um "arrastão" de itens luxuosos que rendeu repercussão nas redes. O evento contou com apresentações de artistas como MC Daniel e Fiuk, reforçando sua rede de contatos no mundo do entretenimento. No entanto, o que parecia uma celebração de ascensão social escondeu atritos, como uma discussão pública com o influenciador Hytalo Santos, que abandonou a festa alegando desconforto com a dinâmica e rebateu críticas de Buzeira, destacando origens periféricas em comum.
Suas relações pessoais também levantam alertas. Buzeira mantém laços próximos com o cantor Oruam, artista fluminense rotulado pela Polícia Civil carioca como de "alta periculosidade". Os dois aparecem com frequência em registros de festas, deslocamentos e encontros afetuosos, cheios de gestos de camaradagem. Quando Oruam foi capturado, Buzeira integrou o grupo de personalidades digitais que impulsionaram uma mobilização virtual pela sua soltura.
Outras ligações notáveis incluem interações com figuras do esporte e da fama, como a entrega de um colar de ouro estimado em R$ 2 milhões ao jogador Neymar durante um cruzeiro de luxo organizado pelo atleta. Relatos de investigações apontam, ainda, possíveis conexões com membros do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção que teria usado a imagem de Buzeira para canalizar fundos do tráfico via plataformas de apostas e sorteios, disfarçando-os como atividades legítimas. Seu irmão também foi detido na mesma operação, ampliando o escopo familiar das apurações.
A Operação Narco Bet, ramificação da anterior Narco Vela que focou no combate ao envio marítimo de substâncias proibidas a partir das costas brasileiras, resultou em 11 detenções e 19 registros de revista domiciliar. Entre os bens confiscados, destacam-se automóveis estrangeiros de elite, pedras preciosas e numerário em papel-moeda. As autoridades impuseram restrições financeiras totais acima de R$ 630 milhões, com o intuito de enfraquecer a estrutura do grupo e compensar prejuízos causados pelas irregularidades. A iniciativa recebeu suporte da Bundeskriminalamt (BKA), polícia federal alemã, que executou uma ordem de prisão contra um suspeito refugiado na Europa.
Peritos revelam que a quadrilha empregava métodos avançados para camuflar os ganhos criminosos, incluindo negociações com moedas virtuais e transferências para instituições estrangeiras, com foco em inserir os recursos no circuito econômico formal por meio de negócios de jogos online. Os implicados enfrentam acusações de ocultação de patrimônio ilícito e formação de bando, agravadas pela dimensão global das condutas, conforme os peritos federais. A defesa de Buzeira não foi encontrada para prestar esclarecimentos até o momento da publicação.
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