O tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, ex-comandante da Aeronáutica, revelou, durante depoimento no Supremo Tribunal Federal (STF), ser alvo de ataques virtuais nos quais é rotulado como “melancia”. O termo, pejorativo, é usado para descrever militares que seriam simpáticos a ideias de esquerda, aludindo à farda verde (por fora) e à cor vermelha (por dentro), associada ao comunismo e ao Partido dos Trabalhadores (PT), do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A declaração surgiu em resposta a perguntas do advogado do general Walter Braga Netto, que buscou explorar as ofensas sofridas por Baptista Júnior devido à sua rejeição a um suposto plano de golpe de Estado em 2022.
Convocado como testemunha da acusação pela Procuradoria Geral da República (PGR), Baptista Júnior integra o rol de depoentes em uma investigação que apura uma tentativa de golpe envolvendo figuras como o ex-presidente Jair Bolsonaro, o ex-comandante da Marinha Almir Garnier e o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira. O caso, conhecido como “núcleo 1” da apuração, tem depoimentos programados até 2 de junho de 2025. Na quinta-feira, 22 de maio, a partir das 8h, estão previstos os testemunhos de indicados pela defesa do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que também é figura central no inquérito.
Os ataques a Baptista Júnior refletem a polarização política que marcou as Forças Armadas nos últimos anos, especialmente após as eleições de 2022. O termo “melancia” ganhou tração em círculos bolsonaristas para desqualificar militares que se opuseram a ações antidemocráticas, como o suposto plano golpista investigado pelo STF. A postura de Baptista Júnior, que se posicionou contra qualquer ruptura institucional, o colocou na mira de críticas nas redes sociais, onde usuários o acusam de trair valores associados à caserna. Essa hostilidade, segundo o ex-comandante, intensificou-se após sua decisão de não apoiar iniciativas que poderiam desestabilizar o governo eleito.
O depoimento de Baptista Júnior no STF reforça sua relevância como testemunha-chave na investigação, que busca esclarecer o papel de oficiais de alta patente e lideranças políticas em possíveis articulações para subverter a ordem democrática. A menção ao termo “melancia” durante o interrogatório também evidencia como narrativas polarizadas têm influenciado a percepção sobre oficiais das Forças Armadas, especialmente aqueles que mantiveram postura de neutralidade ou lealdade às instituições democráticas. Enquanto a investigação avança, o caso continua a gerar debates sobre a relação entre militares e política no Brasil, com desdobramentos que podem moldar a visão pública sobre a conduta das Forças Armadas.
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