Empresários brasileiros e americanos, junto a representantes da indústria e do agronegócio, reuniram-se para discutir os impactos da tarifa de 50% anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com início previsto para 1º de agosto de 2025. O consenso foi pela busca de negociações com o governo americano, evitando medidas retaliatórias precipitadas. A Câmara de Comércio dos EUA e a AmCham Brasil emitiram nota conjunta pedindo “negociações de alto nível” e alertando que a sobretaxa, motivada por tensões políticas, “corre o risco de causar danos reais a uma das relações econômicas mais importantes dos EUA e estabelece um precedente preocupante”. A nota destaca que 6.500 pequenas empresas americanas dependem de importações brasileiras, e 3.900 companhias dos EUA investem no Brasil.
Em Brasília, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, liderou encontros com 37 líderes industriais (setores como máquinas, alumínio, têxtil, aviação e calçados) e 19 do agronegócio (carne, frutas, pescados), acompanhado pelos ministros Rui Costa (Casa Civil), Fernando Haddad (Fazenda), Simone Tebet (Planejamento) e Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos). Alckmin enfatizou a prioridade do diálogo: “Houve uma colocação aqui de que o prazo é exíguo, mas a ideia do governo não é pedir que o prazo seja estendido, mas procurar resolver até o dia 31. O governo vai trabalhar para resolver e avançar nos próximos dias”. Ele reforçou a separação entre questões jurídicas e comerciais, citando Montesquieu: “A separação dos Poderes é pedra fundamental do Estado de direito, o governo não tem ação sobre outro Poder. E em relação à questão das tarifas, trabalharmos para revertê-las. Elas são absolutamente inadequadas”.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI), federações industriais e parte do agronegócio sugeriram um adiamento de 90 dias para a entrada em vigor das tarifas, caso não haja acordo até 1º de agosto. Ricardo Alban, presidente da CNI, alertou: “Estamos falando aqui só de perde-perde. Não tem ganha-ganha. Perde a indústria, perde a economia, perde o social”. Ele estimou a perda de 110 mil empregos e defendeu ações comedidas: “O Brasil não pretende ser reativo intempestivamente, o que entendemos aqui é que o Brasil não vai se precipitar para retaliar com ações econômicas”.
Em São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) reuniu-se com 20 empresários de setores como aviação, suco de laranja, café e sucroalcooleiro, além de Gabriel Escobar, encarregado de negócios da Embaixada dos EUA. Paulo Skaf, ex-presidente da Fiesp, descreveu o encontro como “de diálogo construtivo”. Tarcísio destacou “a importância do diálogo e estabelecimento de caminhos para fortalecer as parcerias da indústria paulista com os EUA”. A Embraer, fortemente impactada, com custos de produção de aviões podendo subir R$ 50 milhões por unidade, defendeu foco na economia, segundo seu presidente, Francisco Gomes Neto.
Empresários sugeriram acordos em áreas como etanol e bitributação para atrair o interesse americano, enquanto a indústria alertou que substituir o mercado dos EUA exigiria anos. Fernando Pimentel, da Abit, destacou: “É preciso mostrar que não faz sentido o Brasil ter a maior taxa sobre seus produtos vendidos nos EUA”. Trump, ao justificar a tarifa, declarou: “(Fiz) porque eu posso fazer isso. Ninguém mais conseguiria”. Sua carta ao Brasil menciona o ex-presidente Jair Bolsonaro como motivo, alegando que o tratamento dado a ele pelo Judiciário brasileiro é “uma vergonha internacional”.
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