Tarifa de Trump ameaça 10 mil empregos na indústria baiana

Setores como celulose, pneus e cacau enfrentam desafios com taxação de 50%
Por: Brado Jornal 17.jul.2025 às 08h21
Tarifa de Trump ameaça 10 mil empregos na indústria baiana
Crédito: Vulcabras/ Divulgação
A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, a partir de 1º de agosto de 2025, pode custar cerca de 10 mil empregos na indústria da Bahia, segundo estimativas da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb). A medida, anunciada neste mês, impactará diretamente setores como celulose, pneus e cacau, que enfrentam aumento de custos nas exportações para os EUA, terceiro maior destino dos produtos industrializados baianos, atrás de China e Canadá. No primeiro semestre de 2025, as exportações baianas para os EUA somaram 440 milhões de dólares, equivalente a R$ 2,4 bilhões.

Carlos Henrique Passos, presidente da Fieb, alerta para as consequências econômicas: “Para algumas indústrias, o mercado americano representa 30% da produção. Se, eventualmente, ela não conseguir dar continuidade àquele mercado no curto prazo, e não encontrar o mercado para colocar os produtos, significará uma redução da produção. Em alguns casos, isso pode inviabilizar as indústrias”. Ele destaca que os importadores americanos terão que arcar com a tarifa, encarecendo produtos baianos nas prateleiras, o que pode levar à perda de competitividade. “Na Bahia, em torno de 10 mil empregos no setor industrial serão afetados se chegarmos ao ponto que as tarifas impedem qualquer tipo de negócio. Imaginar que alguém que compra um produto por R$ 100 passará a comprar por R$ 150, e manterá aquele mercado, é muito difícil”, completa Passos.

A Superintendência de Estudos Econômicos da Bahia (SEI) projeta perdas de 470 milhões de dólares (R$ 2,6 bilhões) no primeiro ano da tarifa, equivalente a 1% do PIB estadual. Arthur Cruz, coordenador de Conjuntura Econômica da SEI, aponta que redirecionar a produção para outros mercados é desafiador devido a custos logísticos e barreiras não tarifárias. “O que determina a viabilidade de redirecionar produtos para outros mercados são os custos logísticos e de competitividade de cada país. Um produto que é competitivo nos Estados Unidos pode não ser em outro país. Existem dificuldades de exportação de produtos brasileiros especialmente para a União Europeia, que possui normas específicas para a entrada de produtos importados”, avalia Cruz. Ele destaca que pequenas e médias empresas sofrerão mais, enquanto grandes indústrias podem se adaptar com maior facilidade.

Edval Landulfo, vice-presidente do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon), sugere que o mercado interno pode absorver parte da produção, reduzindo preços domésticos e atenuando demissões. “Uma produção que exporta exclusivamente para os Estados Unidos, caso não encontre outro mercado, poderá reduzir a produção e demitir. Mas esse não deve ser um efeito imediato pois ainda há o mercado nacional para absorver esses produtos”, afirma Landulfo. Ele considera prematuro prever a extensão total dos impactos no emprego.

Trump justificou a tarifa citando “ordens de censuras secretas e injustas para plataformas de mídia social dos EUA” e uma suposta “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Em resposta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) regulamentou, em 14 de julho, a Lei de Reciprocidade Comercial, permitindo retaliações a países que impõem barreiras unilaterais. Henrique Oliveira, coordenador da Agência de Internacionalização e Exportação (AIEX) da Unifacs, vê a medida como um sinal de declínio da hegemonia comercial americana. “Não é comum que países imponham tarifas a todos os produtos de outro país. Normalmente, o que ocorre são taxações em cima de itens específicos. Os Estados Unidos estão reagindo à diversificação de parceiros econômicos e a perda de sua hegemonia”, analisa.

Oliveira sugere que a Bahia invista em produtos de alto valor agregado, como chocolates de luxo, em vez de exportar commodities como cacau. “É uma boa oportunidade para mostrar a importância de produtos de alto valor agregado direcionados ao mercado de luxo, que não sofrem tanto com as tarifas quanto as commodities. Isso porque os itens produzidos em grande escala e que possuem um baixo valor agregado podem ser exportados por mais países”, explica. Ele alerta, porém, que os impactos exatos da tarifa ainda são incertos: “Todo esse tarifaço causa uma turbulência em diversos mercados. Mas ainda é cedo para cravar quais serão os impactos exatos disso”.


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