O governo do presidente argentino Javier Milei enfrenta uma grave crise política às vésperas das eleições legislativas na província de Buenos Aires, marcadas para 7 de setembro, e das eleições nacionais, previstas para 26 de outubro. A secretária-geral da Presidência, Karina Milei, irmã do chefe de Estado, está no centro de um escândalo de corrupção após a divulgação de áudios que a vinculam a um suposto esquema de subornos na Agência Nacional de Deficiência (Andis). As gravações, ainda sob investigação para confirmação de autenticidade, intensificam a pressão sobre a administração Milei em um momento crítico.
As denúncias partiram de áudios atribuídos a Diego Spagnuolo, ex-diretor da Andis e aliado próximo de Milei, que foi afastado do cargo em 21 de agosto. Nas gravações, Spagnuolo menciona a cobrança de propinas em contratos de fornecimento de medicamentos, apontando Karina Milei e o subsecretário de Gestão Institucional, Eduardo “Lule” Menem, como articuladores do esquema. “Estão roubando, você pode fingir que não sabe, mas não joguem esse problema para mim, tenho todos os WhatsApps de Karina”, diz Spagnuolo em um dos trechos. Ele também detalha que fornecedores pagariam 8% de propina, dos quais 3% a 4% seriam destinados à irmã do presidente, gerando entre US$ 500 mil e US$ 1 milhão mensais.
A Justiça argentina, sob a condução do juiz federal Sebastián Casanello, respondeu rapidamente. Na sexta-feira, 22 de agosto, foram cumpridos 16 mandados de busca, incluindo a sede da Andis e a drogaria Suizo Argentina, citada como beneficiária do esquema. Durante as operações, foram apreendidos US$ 266 mil em envelopes, além de computadores, celulares e documentos. Spagnuolo, que tentou fugir, teve seu celular confiscado e está proibido de deixar o país, assim como os empresários ligados à Suizo Argentina.
O escândalo coincide com um cenário econômico desafiador, com a bolsa caindo, o dólar subindo e uma queda de 13,6% na confiança no governo, conforme pesquisa da Universidad Torcuato Di Tella. Apesar dos avanços de Milei na redução da inflação de 25% ao mês em dezembro de 2023 para 1,9% em julho de 2025, analistas apontam que a economia não cresce como esperado, com juros altos e salários ainda desvalorizados. “O problema deste escândalo é que ele coincide com um momento de ruptura das expectativas econômicas”, afirmou Ignacio Labaqui, professor da Universidade Católica Argentina.
No campo político, o governo enfrenta dificuldades no Congresso, onde sofreu 12 derrotas consecutivas na Câmara e não possui cadeiras no Senado. A oposição, liderada por figuras como Gregorio Dalbón, advogado da ex-presidente Cristina Kirchner, apresentou a denúncia e pressiona por explicações. Karina Milei poderá ser convocada ao Senado para esclarecimentos, enquanto o governo tenta minimizar o impacto. Eduardo Menem negou irregularidades, classificando o caso como uma “operação política” da oposição.
As eleições em Buenos Aires, onde vive um terço do eleitorado argentino, são vistas como um teste crucial para a sustentação do projeto de Milei. Analistas como Carlos Fara destacam que o presidente, cuja popularidade varia entre 42% e 45%, depende de conquistar ao menos 86 deputados para formar um “escudo legislativo” contra ameaças como um impeachment. “Milei foi eleito com muitos votos emprestados do centro, e esses eleitores podem estar com dúvidas”, observou Fara. O silêncio da Casa Rosada sobre o caso reforça a crise, que ameaça a imagem de combate à corrupção que marcou a campanha de Milei.
Deixe sua opinião!
Assine agora e comente nesta matéria com benefícos exclusivos.
Sem comentários
Seja o primeiro a comentar nesta matéria!
Carregando...