Vitória do peronismo nas legislativas de Buenos Aires representa revés para Milei em meio a escândalos

Coalizão de Cristina Kirchner lidera com ampla margem e fortalece oposição antes de pleito nacional
Por: Brado Jornal 08.set.2025 às 08h03
Vitória do peronismo nas legislativas de Buenos Aires representa revés para Milei em meio a escândalos
Foto: Emiliano Lasalvia / AFP
A coalizão peronista Fuerza Patria, ligada à ex-presidente Cristina Kirchner, obteve sucesso nas eleições legislativas da província de Buenos Aires, maior colégio eleitoral da Argentina, ao conquistar 47% dos votos com 89% das urnas apuradas. O resultado marca uma derrota significativa para o partido La Libertad Avanza, do presidente Javier Milei, que alcançou 34% dos votos, em um contexto de crise econômica e denúncias de corrupção envolvendo a irmã do mandatário, Karina Milei.

O pleito provincial, realizado em 7 de setembro de 2025, renovou 46 vagas de deputados e 23 de senadores na Assembleia Legislativa, além de cargos municipais como 1.097 vereadores e 401 conselheiros escolares. A província concentra cerca de 38% do eleitorado nacional, tornando o resultado um indicador chave para as eleições legislativas federais de 26 de outubro, quando metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado serão renovados. A participação eleitoral ficou em 63%, acima das expectativas iniciais para um voto local isolado das nacionais.

Cristina Kirchner, que cumpre prisão domiciliar desde junho de 2025 após condenação por corrupção, celebrou o triunfo de sua residência em Buenos Aires, onde saudou apoiadores reunidos na rua. Apoiadores se dividiram entre o comitê de campanha em La Plata, capital provincial, e a casa da ex-presidente, refletindo tensões internas no peronismo, como disputas entre o governador Axel Kicillof e o deputado Máximo Kirchner, filho de Cristina e líder da ala La Cámpora. Kicillof, potencial candidato presidencial em 2027, destacou a vitória como um "caminho de esperança e futuro" em discurso no búnker peronista.

O governador provincial enfatizou a organização dos intendentes locais, que contribuíram para o sucesso em 99 dos 135 municípios. A Fuerza Patria venceu em seis das oito seções eleitorais, incluindo as mais populosas, garantindo 21 das 46 cadeiras de deputados e 13 das 23 de senadores em disputa. Em terceiro lugar ficou o Somos Buenos Aires, com 5%, seguido pela Frente de Esquerda y de los Trabajadores Unidad, com 4%.

Milei reconheceu a "derrota clara" de seu partido em declaração pública, afirmando que "tem de ser aceita" e prometendo esforços para reverter o quadro. A campanha de La Libertad Avanza sofreu com a divulgação de áudios em agosto de 2025, atribuídos a Diego Spagnuolo, ex-diretor da Agência Nacional para Pessoas com Deficiência (Andis), que alegam a participação de Karina em um esquema de propina de 3% em contratos de medicamentos. O escândalo, somado a protestos como pedradas em uma carreata de Milei em 27 de agosto na Grande Buenos Aires, e resistência do setor bancário a novas regras de liquidez, abalou a popularidade do governo. Pesquisas recentes indicavam empate em vários distritos, mas problemas econômicos, como estagnação e veto a aumentos para aposentados e deficientes, favoreceram a oposição.

Cristina Kirchner criticou o governo em postagem nas redes sociais: “Banalizar o 'Nunca Mais', que representa o período mais negro e trágico da história argentina, não é grátis. Rir da morte e da dor de seus oponentes, tampouco. Mas aponta com o dedo e estigmatizar pessoas com deficiência, enquanto sua irmã cobra 3% de propina de seus medicamentos, é letal”. A deputada nacional Karina Moreau, do peronismo, reforçou o tom ao agradecer a militância e citar a unidade: “Um abraço enorme e o reconhecimento à militância que fez possível este triunfo. A Juan Grabois, a Máximo Kirchner, a Sergio Massa e a Axel Kicillof. Também a Cristina Kirchner”.

O peronismo, que governa a província desde 2019, vê no resultado um freio às políticas de ajuste fiscal de Milei e uma oportunidade para unificar forças antes das eleições nacionais. Aliados de Kicillof consideram o pleito um teste para sua liderança oposicionista, enquanto o governo federal enfrenta pressão crescente de setores econômicos. Até o momento, não há pronunciamento adicional da equipe de Milei sobre os próximos passos.


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