Bolsonaro prioriza perdão penal e sinaliza disposição para renunciar à reversão de inelegibilidade

Aliados revelam inclusão de perdão para crimes eleitorais como margem para diálogos, em meio a condenação por tentativa de golpe
Por: Brado Jornal 17.set.2025 às 07h47
Bolsonaro prioriza perdão penal e sinaliza disposição para renunciar à reversão de inelegibilidade
Foto: Evaristo Sá/AFP
O ex-presidente Jair Bolsonaro, atualmente sob regime de prisão domiciliar e sentenciado a 27 anos e três meses de reclusão por envolvimento em uma trama para golpe de Estado, tem direcionado esforços para uma anistia criminal, conforme confidenciaram interlocutores próximos. Esses aliados afirmam que a proposta de perdão a crimes eleitorais foi incorporada ao projeto legislativo com o intuito de criar oportunidades para negociações políticas, especialmente após a recente decisão da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) que o condenou por liderar uma organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.

A condenação, proferida em 11 de setembro de 2025, representa um marco inédito na história brasileira, sendo a primeira vez que um ex-presidente eleito é julgado e punido por crimes contra o Estado Democrático de Direito previstos na Constituição de 1988. A pena, proposta pelo relator Alexandre de Moraes e acatada pela maioria dos ministros, deve ser cumprida inicialmente em regime fechado, embora a defesa de Bolsonaro já prepare pedidos para manutenção da prisão domiciliar, argumentando com a idade avançada de 70 anos e problemas de saúde graves, como previsto na legislação para maiores de 70 anos com condições médicas sérias. Desde 4 de agosto de 2025, ele cumpre prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica, decretada por Moraes devido ao descumprimento de medidas cautelares que o impediam de se manifestar por redes sociais ou por intermédio de terceiros.

Interlocutores de Bolsonaro revelam que, em conversas reservadas, o ex-presidente admitiu a aliados a possibilidade de abrir mão da luta para reverter sua inelegibilidade, que foi agravada pela decisão do STF. A inelegibilidade, agora estendida por oito anos a partir do cumprimento da pena, decorre da Lei da Ficha Limpa e se soma à proibição anterior até 2030, tornando remota qualquer candidatura futura, inclusive à eleição presidencial de 2026. "Interlocutores dizem que perdão a crimes eleitorais foi incluído no texto por espaço para negociação", conforme as fontes próximas, que veem na anistia uma estratégia para mitigar os impactos da sentença e pacificar o cenário político na direita brasileira.

A trama golpista, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), teve seu ápice nos atos de 8 de janeiro de 2023, com invasões violentas às sedes dos Três Poderes em Brasília, mas remonta a 2022, quando Bolsonaro articulou ataques ao sistema eleitoral, difusão de desinformação e incitação a intervenção militar para impedir a posse do governo eleito. Outros sete réus, incluindo ex-ministros como Walter Braga Netto (26 anos de prisão), Augusto Heleno (20 anos), Paulo Sérgio Nogueira (18 anos) e Almir Garnier (24 anos), foram condenados por graus variados de participação, com penas que variam de 16 a 27 anos. O delator Mauro Cid recebeu 2 anos em regime semiaberto, beneficiado por sua colaboração nas investigações.

Durante o julgamento, Moraes enfatizou que "não cabe indulto pelo presidente, anistia pelo Congresso e também não cabe perdão judicial pelo Judiciário em crimes de golpe de Estado", reforçando a impossibilidade de anistia para esses delitos contra a democracia. Apesar disso, aliados como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, defendem publicamente a anistia como forma de acalmar tensões, embora confidenciem que o avanço de um projeto amplo é improvável. A defesa de Bolsonaro nega as acusações, alegando perseguição política, e planeja recursos para adiar a execução da pena, que só ocorrerá após o trânsito em julgado. Especialistas em Direito Penal avaliam que a pena é proporcional ao papel de liderança exercido pelo ex-presidente e ao número de crimes comprovados, com base em provas como lives, reuniões e documentos golpistas.

A decisão aprofunda a polarização política, com impactos na base bolsonarista no Congresso, que articulam projetos alternativos de anistia. No entanto, a condenação também determina perda de mandatos, como o de deputado de Alexandre Ramagem, inelegibilidade coletiva e ofício ao Superior Tribunal Militar para análise de indignidade ao oficialato para militares envolvidos, incluindo Bolsonaro.


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