O ex-presidente Michel Temer (MDB) avaliou, em entrevista ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura, na segunda-feira (15 de setembro de 2025), que as ações do governo dos Estados Unidos contra o Judiciário brasileiro acabaram proporcionando um ganho político significativo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo Temer, o petista utilizou as sanções impostas por Donald Trump para reforçar sua posição, evocando temas de independência nacional e resgatando elementos de sua trajetória nas urnas. “Esse gesto dos EUA recuperou a figura do Lula, invocou-se soberania nacional, ‘aqui ninguém põe o pé, etc’. Levantou a história eleitoral do Lula”, declarou Temer.
As tensões entre Brasil e Estados Unidos escalaram em julho de 2025, quando Trump enviou uma carta direta a Lula criticando o julgamento de Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF), qualificado pelo republicano como uma “caça às bruxas”. Na mensagem, Trump anunciou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, justificando a medida como resposta a supostas injustiças comerciais e interferências na justiça do país. Analistas apontam que, apesar de dados oficiais indicarem superávit comercial americano com o Brasil, a decisão tem forte viés geopolítico, visando pressionar o governo brasileiro em meio ao processo contra Bolsonaro, acusado de tentativa de golpe de Estado após os atos de 8 de janeiro de 2023.
Lula rebateu imediatamente, destacando a soberania do Brasil e afirmando que o país não aceitaria interferências externas. Em 6 de agosto de 2025, quando as tarifas entraram em vigor, o presidente brasileiro expressou sua “intuição” de que Trump não desejava diálogo, recusando-se a “se humilhar” para resolver o impasse. Trump, por sua vez, havia declarado publicamente que “Lula pode ligar quando quiser”, mas não houve contato oficial de Brasília. Em 5 de setembro, Lula reiterou que o líder americano “não quer conversar” sobre o tarifaço. Posteriormente, em 12 de setembro, o petista reforçou que não teme novas sanções, respondendo a uma porta-voz da Casa Branca e enfatizando que o Brasil não é uma “republiqueta de banana”.
No artigo publicado no The New York Times em 14 de setembro de 2025, intitulado “A democracia e a soberania do Brasil não são negociáveis”, Lula defendeu o STF e criticou as tarifas como “remédio errado”, argumentando que elas ignoram o superávit dos EUA no comércio bilateral e visam fins políticos. O texto, direcionado a Trump, convida a um “diálogo aberto e franco” em áreas de interesse comum, mas deixa claro que soberania e democracia brasileira não estão em discussão. Lula também rebateu acusações americanas contra o Pix, sistema de pagamentos instantâneos, e contra medidas regulatórias de redes sociais no Brasil, afirmando que elas promovem inclusão financeira e protegem crianças de abusos online.
Embora reconheça o benefício político para Lula, Temer criticou a abordagem do atual governo e defendeu uma solução diplomática direta. “Nessas questões, não se deve pensar em uma questão eleitoral, deve se pensar no Brasil. Eu telefonaria para o Trump. O diálogo é fundamental. Você sabe que eu acho que ele atenderia o telefone. E se atende, começa um diálogo”, afirmou o ex-presidente. Ele também qualificou o artigo de Lula como inadequado: “Lamento dizer, mas esta carta foi provocativa, foi uma carta para o povo brasileiro. Lá na carta é dito que Trump é desonesto, que é falso”.
O embate gerou reações variadas. Nove ex-ministros da Justiça e Segurança Pública de governos anteriores, incluindo os de Fernando Henrique Cardoso, Lula, Dilma Rousseff e o próprio Temer, assinaram uma carta aberta em 21 de julho de 2025 repudiando a interferência americana, destacando que ela representa uma afronta à soberania nacional. Especialistas consultados indicam que as tarifas, embora impactem o comércio, não violam diretamente a soberania, mas servem como ferramenta de pressão internacional. Trump ameaçou retaliações adicionais em caso de reciprocidade brasileira, enquanto Lula mantém a disposição para negociações em temas econômicos, sem ceder em assuntos internos.
A disputa bilateral, que marca o pior momento das relações entre os dois países em décadas, envolve críticas mútuas à política externa e comercial. Lula tem usado o episódio para mobilizar apoio doméstico, enquanto Trump apoia publicamente Bolsonaro, a quem considera um líder respeitado. Até o momento, não há indícios de escalada imediata, mas analistas alertam para possíveis efeitos na economia brasileira, como aumento de custos para exportadores e impactos em setores como agricultura e manufatura.
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