Líderes do Centrão estão intensificando articulações para que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) acelere a sinalização de apoio ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), como nome principal da direita na corrida presidencial de 2026. A estratégia visa consolidar um candidato competitivo e neutralizar o crescimento da facção mais extremista do bolsonarismo, comandada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), evitando uma repetição do episódio que enfraqueceu Fernando Haddad em 2018, quando divisões internas pulverizaram o campo progressista.
Nos corredores do Congresso, caciques de siglas como PP, União Brasil e Republicanos argumentam que a demora na definição pode beneficiar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), permitindo que ele recupere terreno em pesquisas de popularidade. "O Bolsonaro que é problema para Tarcísio não é Jair, é Eduardo", confidenciou um líder do Centrão ao G1, destacando o risco de que o tom agressivo do deputado afaste eleitores moderados e indecisos. A ala radical, segundo interlocutores, pressiona Tarcísio a adotar posturas mais ideológicas, o que o governador resiste em fazer, priorizando uma imagem de gestor técnico e conciliador.
A movimentação ganhou força após a condenação de Jair Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão por suposta trama golpista, decidida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na semana passada. Inelegível e em prisão domiciliar em Brasília, o ex-presidente autorizou informalmente Tarcísio a liderar pautas nacionais, como a defesa da anistia aos réus dos atos de 8 de janeiro de 2023 um gesto que o Centrão vê como essencial para acalmar a família Bolsonaro e pavimentar o caminho do paulista. Em visita recente ao ex-mandatário, Tarcísio reforçou seu compromisso com o legado conservador, mas reiterou via assessoria que seu candidato preferencial para 2026 segue sendo Bolsonaro.
No entanto, a resistência de Eduardo Bolsonaro complica o cenário. O deputado tem discutido com aliados a possibilidade de lançar sua própria candidatura, mesmo contra a vontade do pai, temendo que a ascensão de Tarcísio "enterre o bolsonarismo como movimento político", conforme aliados revelaram à Rádio Pampa. Críticas indiretas do filho do ex-presidente, como chamá-lo de "direita permitida", já circulam nas redes e em círculos próximos, irritando o Centrão. Eduardo chegou a elogiar as tarifas de 50% impostas por Donald Trump ao Brasil, o que provocou debandada silenciosa de aliados pragmáticos, que o veem como "difícil de articular" e propenso a rupturas com o Legislativo.
Pesquisas recentes, como o levantamento AtlasIntel/Bloomberg, indicam que 46,3% dos eleitores bolsonaristas veem Tarcísio como o sucessor ideal, à frente de Eduardo (25%) e Michelle Bolsonaro (21,5%). Outro estudo, do Instituto Quaest, posiciona o governador como o rival mais forte da direita contra Lula no segundo turno, com 35% das intenções de voto contra 43% do petista. Para viabilizar essa projeção, o bloco partidário aposta em uma federação entre União Brasil e PP, com nomes como Ciro Nogueira sonhando em ser vice na chapa.
O Centrão também avança em gestos concretos, como uma PEC para blindagem parlamentar e uma anistia restrita focada em redução de penas, sem elegibilidade plena para Bolsonaro, para agradar os radicais sem abrir brechas judiciais. "Não dá mais", desabafou um dirigente do PP sobre a postura extremista da família, ecoando o cansaço com polêmicas que afastam investidores e o centro político. Analistas como Clarissa Oliveira, da CNN, alertam que a urgência na unificação decorre do temor de que uma fragmentação beneficie Lula, especialmente se o governo atual "sangrar" até as eleições por bloqueios no Congresso.
Enquanto isso, Tarcísio nacionaliza seu discurso, equilibrando apelos à base fiel de Bolsonaro com atrativos ao eleitorado amplo. Apoios de caciques como Gilberto Kassab (PSD) e Marcos Pereira (Republicanos) reforçam sua articulação, mas o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), mais alinhado ao projeto, pondera: "Sua força em São Paulo pode ser decisiva para uma eleição nacional. Não adianta ter pressa, pois o cenário ainda pode mudar nos próximos meses". A expectativa é que Jair Bolsonaro intervenha diretamente para enquadrar o filho, garantindo coesão e evitando fogo amigo que poderia inviabilizar o nome mais competitivo da direita.
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