O ex-parlamentar Marcelo Nilo, do Republicanos, apontou o desaparecimento inexplicável da mais recente edição da revista Veja em quiosques e estabelecimentos comerciais baianos. A publicação, que circulou nos últimos dias, apresenta novidades sobre o processo que examina o suposto papel do chefe da Casa Civil, Rui Costa, na aquisição de 300 aparelhos de respiração artificial durante a crise sanitária de Covid-19. Naquele período, Costa ocupava o cargo de governador baiano e liderava o Consórcio Nordeste. O negócio, avaliado em R$ 48 milhões, resultou em prejuízo total, pois nenhum dos itens foi recebido pelos estados envolvidos. O ministro, por sua vez, rejeita qualquer ligação com as irregularidades apontadas.
De acordo com a matéria da Veja, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, solicitou a continuidade das diligências quanto ao possível envolvimento de Rui Costa e argumentou pela permanência do processo no Superior Tribunal de Justiça (STJ). As apurações, conforme relatado pela revista, giram em torno da colaboração premiada de Cristiana Prestes Taddeo, proprietária da Hempcare, a companhia responsável pela oferta dos equipamentos, que acabou não cumprindo a entrega. “Além de contar o que sabia em troca de benefícios judiciais, a delatora devolveu R$ 10 milhões do dinheiro desviado pela quadrilha”, revela um excerto da reportagem.
A delação de Taddeo, homologada recentemente, traz revelações que complicam a defesa de Costa. Nos relatos, ela descreve como foi contatada por Bruno Dauster, então secretário da Casa Civil da Bahia e confidente próximo do governador, para intermediar a importação dos respiradores – um valor de R$ 48 milhões quitado de forma adiantada, sem garantias ou licitação, em meio ao pico de mortes pela pandemia. A Hempcare, fundada apenas nove meses antes do acordo, atuava principalmente com importação de roupas de praia da China e remédios derivados de cannabis, sem qualquer expertise em suprimentos médicos. “Em quase todas as comunicações mantidas com Bruno Dauster ele mencionou que dependia de autorização de Rui Costa dos Santos (governador do Estado da Bahia) para tomar as decisões”, afirmou a delatora em um dos depoimentos, conforme acesso exclusivo da Veja ao documento central do acordo.
Auditores do Tribunal de Contas da União (TCU), em análises prévias, já haviam classificado o contrato como uma "balbúrdia" em planejamento e riscos, com documentação forjada para simular legalidade. Carlos Gabas, ex-ministro e executor do Consórcio na época, assinou uma nota fiscal atestando que os aparelhos – inexistentes – foram recebidos "em perfeitas condições". Peritos do Ministério Público estimaram sobrepreço de até 318% em relação a cotações de outros fornecedores, e a PF identificou que parte dos recursos foi desviada para luxos pessoais, como veículos de alta gama, e quitação de dívidas. Apesar de Costa insistir que o Consórcio denunciou a fraude à polícia e que ele não interferiu diretamente, o parecer de Gonet, de junho de 2025, reforça indícios contra o pagamento antecipado sem proteções aos recursos públicos, devolvendo o caso ao STJ após breve tramitação em instância inferior.
“A revista tomou chá de sumiço das bancas, estranhamente desapareceu. O povo da Bahia quer saber onde foram parar os R$ 48 milhões dos respiradores que nunca chegaram. O povo está sedento por Justiça”, declarou Nilo, em crítica que ganhou repercussão nas redes sociais baianas. A ausência da edição, segundo o ex-deputado, levanta suspeitas de tentativa de abafar o tema em um estado onde Costa mantém forte influência política.
A defesa do ministro, em nota recente, celebrou o posicionamento da PGR como alinhado à sua argumentação, enfatizando que o Consórcio agiu para acionar autoridades assim que as falhas foram detectadas. O inquérito, agora com foco ampliado pela delação, pode resultar em novas oitivas e perícias, enquanto o TCU, em decisão de abril deste ano, arquivou punições contra Costa e Gabas por considerar o contexto de urgência pandêmica, embora tenha reconhecido falhas graves no processo.
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