Na iminência de uma rodada inicial de diálogos bilaterais entre Washington e Brasília, marcada para esta semana – possivelmente na quinta-feira (16) –, o presidente americano Donald Trump já delineou uma exigência central para o governo brasileiro. Ele cobra que o país desista de qualquer iniciativa no âmbito do Brics para substituir o dólar como referência em negociações comerciais entre os membros do bloco.
Essa declaração surge em meio a preparativos para o diálogo entre o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, e o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, que deve inaugurar as tratativas formais entre as nações. Trump, em recente interação com o presidente argentino Javier Milei, reforçou sua posição dura contra o grupo emergente de economias. "Estão todos saindo do Brics. Era um ataque ao dólar. Eu disse: ‘querem jogar esse jogo? Vamos colocar tarifas sobre todos os produtos que entrarem nos Estados Unidos’. Eles disseram: ‘estamos fora do Brics’. E agora ninguém mais fala disso", declarou o líder republicano.
Embora o Brasil não pretenda abandonar o Brics, o discurso sobre uma alternativa ao dólar nas trocas entre os países do bloco tem sido silenciado internamente. Nos últimos meses, apenas o governo de Lula sustentava essa bandeira, enquanto aliados como China e Rússia optaram por cautela, evitando atritos adicionais com a administração Trump. Especialistas apontam que o grupo, agora ampliado para 11 nações incluindo Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos e Indonésia, representa quase metade da população global e atua como contrapeso ao G7, mas discussões sobre uma moeda comum ou de reserva alternativa ainda carecem de consenso prático.
Assessores do Planalto recomendam pragmatismo ao presidente Lula, sugerindo que o tema seja arquivado para preservar relações com os EUA. A implementação de tal mudança demandaria anos, com a necessidade de harmonizar desequilíbrios econômicos entre os membros antes de definir uma nova referência para transações financeiras e comerciais. O Kremlin, por sua vez, rebateu Trump nesta quarta-feira (15), afirmando que o Brics "nunca visou terceiros países ou suas moedas" e se concentra em cooperação mútua para prosperidade, segundo o porta-voz Dmitry Peskov.
O otimismo de Lula com uma possível cúpula bilateral foi expresso recentemente, mas analistas alertam que as tarifas prometidas por Trump de até 100% sobre importações de nações que desafiem o dólar podem acelerar a fragmentação econômica global, paradoxalmente impulsionando a desdolarização que ele busca conter. Estudos, como o do Atlantic Council's GeoEconomics Center, reforçam que o dólar segue como reserva primária mundial, apesar de pressões geopolíticas. Em julho, durante encontro entre Rubio e Vieira, os EUA já haviam sinalizado tarifas de 50% contra o Brasil por questões ligadas ao Brics, o que aproximou Brasília ainda mais de Pequim e Moscou, segundo fontes diplomáticas.
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