O encontro entre os presidentes Donald Trump, dos Estados Unidos, e Xi Jinping, da China, realizado na madrugada de quinta-feira (30) na Coreia do Sul, resultou em um acordo que alivia as tensões comerciais entre as duas maiores economias globais. Trump anunciou a diminuição das tarifas de importação sobre bens chineses, de 57% para 47%, marcando o primeiro diálogo direto desde sua posse em janeiro. Essa redução, efetiva de imediato, beneficia o gigante asiático em comparação com nações como o Brasil, cujos produtos ainda arcam com alíquotas de até 50% com exceções pontuais para acessar o mercado norte-americano.
A medida, que evita uma ameaça anterior de Trump de elevar as taxas a 100%, surge em meio a um contexto de guerra comercial prolongada, iniciada em 2018. Analistas, como Craig Singleton, do Foundation for Defense of Democracies, descrevem o pacto como "alívio transacional temporário", sem resolver questões estruturais, mas oferecendo uma pausa de um ano que pode estabilizar cadeias de suprimentos globais. O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, destacou em entrevista à Fox Business que o acordo inclui uma suspensão de um ano nas restrições da Lista de Entidades, facilitando o acesso chinês a tecnologias americanas off-limits, como equipamentos para semicondutores.
Em troca da redução tarifária, Pequim comprometeu-se a retomar compras massivas de soja americana 25 milhões de toneladas anuais pelos próximos três anos, após uma paralisação que custou US$ 3 bilhões aos produtores dos EUA no primeiro semestre de 2025. Além disso, a China suspendeu por 12 meses os controles de exportação sobre terras raras, elementos químicos essenciais para tecnologias como smartphones e veículos elétricos. Esses insumos, concentrados majoritariamente na China (com o Brasil entre os principais detentores mundiais), haviam sido restringidos recentemente para impedir usos militares.
As terras raras são um grupo de 17 elementos químicos presentes em vários países. A maior parte das reservas conhecidas está concentrada na China, com o Brasil entre os principais detentores. Esses elementos são essenciais para a produção de smartphones, carros elétricos e outras tecnologias avançadas, o que os torna estratégicos para a indústria global.
Outro pilar do entendimento foca no fentanil, opioide sintético responsável pela maioria das overdoses nos EUA, 50 vezes mais viciante que a heroína e usado medicamente como analgésico. As tarifas específicas sobre produtos relacionados caíram de 20% para 10%, em resposta a uma "cooperação significativa" chinesa para frear precursores químicos enviados via Canadá e México. Trump elogiou o encontro como "12 de 10" e "amazing", afirmando que Xi Jinping "concordou com quase tudo" em quase duas horas de discussões.
 O que é fentanil? 
É uma droga sintética muito potente, que vicia 50 vezes mais do que a heroína. Atualmente, é o principal responsável pelas mortes por overdose de opioides nos EUA. Mas também pode ser prescrito por médicos no país, como analgésico.
O pacto ainda prevê a suspensão temporária de novas tarifas portuárias americanas sobre navios chineses, estimadas em US$ 3,2 bilhões anuais para embarcações grandes, e uma trégua delicada estendida por cerca de um ano, renovável anualmente. Especialistas notam que a China falhou em cumprir promessas anteriores do Acordo Fase 1 de 2020, mas o atual entendimento representa um "grande avanço" para Trump, segundo analistas da Wolfe Research, ao usar a alavancagem das terras raras para forçar concessões.
Enquanto isso, o Brasil permanece entre os poucos grandes parceiros comerciais dos EUA ao lado da Índia sujeitos às taxas mais altas, justificadas por Trump como retaliação à "caça às bruxas" contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a cerca de 27 anos por tentativa de golpe após as eleições de 2022. A Índia enfrenta situação similar devido à continuidade de compras de petróleo russo, desafiando sanções americanas ligadas à guerra na Ucrânia.
No domingo (26), Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniram por 45 minutos nas margens da Cúpula da Asean, em Kuala Lumpur, na Malásia, elevando esperanças de um acordo bilateral. Lula, que entregou a Trump um documento argumentando contra as tarifas com base em "informações equivocadas", enfatizou a visão futura nas tratativas: “O que importa em uma negociação é olhar para o futuro. A gente não quer confusão, quer resultado”. Trump qualificou o diálogo como "muito bom", mas cauteloso: “Eles gostariam de fazer um acordo. Vamos ver, agora mesmo estão pagando cerca de 50% de tarifa.”
Lula se mostrou otimista na segunda-feira (27), afirmando que Trump "garantiu" um pacto comercial e que as equipes iniciariam discussões "imediatamente". “We agreed that our teams will meet immediately to advance the search for solutions to the tariffs and sanctions against Brazilian authorities”, postou o presidente brasileiro em rede social. Trump, a bordo do Air Force One rumo ao Japão, descreveu Lula como "um cara muito vigoroso" e indicou possibilidade de "bons acordos para ambos os países".
Na segunda (27), a primeira rodada de negociações ocorreu com a participação do chanceler Mauro Vieira, do secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Márcio Rosa, e do embaixador Audo Faleiro. O grupo traçou um calendário priorizando setores impactados, como agricultura e mineração, e solicitou suspensão das tarifas durante o processo. O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, informou que não há data para nova rodada, mas o otimismo persiste, com Lula reafirmando que o Brasil, como maior economia sul-americana, merece tratamento recíproco no G20.
O Senado americano, em votação bipartidária de 52-48 na terça (28), aprovou projeto para revogar as tarifas de 50% sobre o Brasil, impulsionado por republicanos como Mitch McConnell e Rand Paul, mas o texto ainda precisa passar pela Câmara, onde chances são baixas. Críticos veem a medida como "traição à alavancagem estratégica" de Trump, que usou as taxas para forçar concessões, similar ao êxito com a China.
                                                     
						
Deixe sua opinião!
Assine agora e comente nesta matéria com benefícos exclusivos.
Sem comentários
Seja o primeiro a comentar nesta matéria!
Carregando...