Em ação deflagrada pela Polícia Federal nesta quinta-feira (6), o Tribunal Regional Federal da 3ª Região determinou a suspensão temporária por 180 dias do prefeito Rodrigo Manga (Republicanos), de Sorocaba (SP), uma das figuras centrais na apuração de irregularidades em contratações de saúde. O vice-prefeito Fernando Neto (PSD) toma posse interinamente na administração municipal, enquanto as buscas e prisões visam desmantelar um suposto esquema de corrupção envolvendo entidades terceirizadas.
A segunda etapa da Operação Copia e Cola, iniciada em abril deste ano, baseia-se em evidências coletadas anteriormente que apontam para a participação de novas entidades e indivíduos no desvio de verbas públicas destinadas ao setor de saúde. De acordo com a PF, os agentes identificaram práticas como superfaturamento em contratos com uma Organização Social (OS) responsável por gerir unidades de atendimento médico na prefeitura. Essa OS, ligada a uma igreja evangélica com conexões familiares ao prefeito, já havia sido alvo na fase inicial, quando foram apreendidos R$ 1,7 milhão em espécie, armas e veículos de luxo em endereços associados a líderes religiosos próximos a Manga, incluindo a cunhada do prefeito, Simone Rodrigues Frate de Souza.
Durante as diligências desta manhã, foram executados sete mandados de busca e apreensão, além de dois de prisão preventiva, resultando na detenção de duas pessoas, entre elas o empresário Marco Silva Mott, conhecido como amigo próximo de Manga e apontado como possível lobista envolvido em lavagem de recursos por meio de múltiplos acordos municipais. A Justiça também impôs o bloqueio de bens dos suspeitos, totalizando cerca de R$ 6,5 milhões em ativos indisponíveis, e restrições como proibição de aproximação entre investigados e a suspensão de funções públicas. A Câmara Municipal de Sorocaba foi comunicada formalmente sobre as medidas, o que pode desencadear discussões sobre cassação ou outras sanções políticas.
Manga, que se encontra em Brasília para compromissos institucionais, reagiu rapidamente nas plataformas digitais, onde acumula milhões de seguidores graças a conteúdos virais sobre sua gestão. Ele divulgou um vídeo expressando incredulidade e sugerindo motivações políticas por trás da decisão. "Acredite se quiser, me afastaram do cargo de prefeito. Eu aqui em Brasília, ontem eu fui em frente o Palácio da Justiça, falei que tem que colocar o Exército na rua, rodei o congresso, os deputados me receberam super bem, falando: 'Manga, cuidado, está aparecendo muito, estão tentando aí'. O que a gente ouve de bastidores é que os caras tentam tirar do jogo qualquer um que ameaça a candidatura deles e você tem sido uma ameaça, tanto na questão do Senado, como em outros cargos. Gente, não deu outra", declarou ele, completando em outra postagem: "Isso que eles estão fazendo vai fazer nosso nome soprar ainda mais", ao afirmar que buscaria esclarecimentos adicionais sobre os procedimentos.
Nascido em Sorocaba, Rodrigo Manga construiu sua trajetória política após uma carreira como vendedor de automóveis em concessionárias locais, onde ganhou visibilidade com anúncios em vídeo. Formado em marketing, ele transitou para o legislativo como vereador por dois mandatos antes de se eleger prefeito em 2020, com 52,58% dos votos no segundo turno, e ser reeleito em 2024 com ampla margem de 73,75%. Sua estratégia digital, com postagens curtas e impactantes sobre obras e políticas locais, o transformou em fenômeno nas redes, embora algumas delas tenham sido criticadas pelo Ministério Público por disseminar informações questionáveis. Essa projeção nacional o posicionou em pesquisas para governador de São Paulo ou até presidente em 2026, dependendo das escolhas do partido Republicanos, mas as investigações têm gerado controvérsias, incluindo bloqueios de bens desde 2023 por suspeitas de superfaturamento em aquisições de equipamentos educacionais, como kits de robótica (R$ 26,2 milhões) e lousas digitais.
A defesa de Marco Silva Mott emitiu nota contestando a legalidade da prisão. "A defesa irá esclarecer os equívocos. Além disso, trata-se de medida desnecessária, pois, nosso cliente sempre esteve à disposição das autoridades e já prestou esclarecimentos iniciais. Desse modo, traremos esses pontos ao tribunal que poderá compreender melhor os fatos".
A Operação Copia e Cola surgiu em 2022, após denúncias de fraudes na seleção de uma OS para operacionalizar serviços de saúde em Sorocaba, com buscas iniciais em abril de 2025 atingindo 28 endereços em 13 cidades de São Paulo e na Bahia. Naquela ocasião, alvos incluíram a sede da prefeitura, o gabinete e residência de Manga, a Secretaria de Saúde e o diretório local do Republicanos, além de imóveis ligados ao ex-secretário de Saúde, Vinicius Rodrigues, e ao ex-secretário de Administração, Fausto Bossolo. As apreensões incluíram R$ 863 mil em endereços de pastores evangélicos conectados à família do prefeito, como o bispo Josivaldo Souza, e evidências de negociações prévias de propina com entidades investigadas antes mesmo da eleição de 2020. Relatórios da PF revelam que Manga teria usado "dinheiro vivo" para aquisição de imóveis de luxo e que uma empresa da primeira-dama, Sirlange Frate Manganhato, recebeu R$ 750 mil de uma igreja gerida por sua irmã. Ademais, um representante da OS teria cobrado "parceria" de um secretário municipal antes de um contrato de R$ 86 milhões com a prefeitura.
Em julho, vereadores de Sorocaba arquivaram por 18 votos a 7 um pedido do ex-prefeito José Crespo para instauração de CPI sobre as denúncias, apesar de ele ter anexado reportagens detalhando os achados da PF. Em junho, Crespo protocolou nova denúncia na Câmara solicitando cassação de Manga, citando "ações criminosas" que comprometem a administração. A defesa do prefeito tem reiterado colaboração total com as autoridades e negado qualquer irregularidade, atribuindo as ações a "forças ocultas" em meio à sua ascensão política. A PF continua as análises para possíveis novas fases, enquanto a população de Sorocaba acompanha os desdobramentos em um contexto de crescente escrutínio sobre a gestão da saúde pública.
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